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"Quem gosta de estudar não é admirado no Brasil"
DE SÃO PAULO
Guo Qiang Hai, 48, físico
chinês que mora em São Carlos (SP) desde 1993, veio para
o Brasil sem conhecer ninguém, atrás de uma bolsa na
Universidade Federal de São
Carlos. Desde 2003 é professor da USP. Adora o país, mas
está preocupado.
Tem uma filha de um ano
com uma brasileira e acha
que as escolas que ela vai frequentar não são tão boas
quanto as chinesas.
"Na China a escola é em
tempo integral, o aluno sempre volta com tarefa. Se precisar, ele estuda no sábado."
Para Hai, a escola chinesa
não é melhor apenas que a
brasileira. Ele tem outra filha, que estudava na China
até o ano passado. Com dificuldades em matemática, tinha um professor particular.
Quando a menina se mudou com a mãe (também chinesa) para a Austrália, se tornou a melhor da turma na
matéria. "Todos falam para
ela "nossa, como você é inteligente'", conta Hai, rindo.
"Além de o professor chinês ganhar bem, os alunos
respeitam. Existe uma cultura que valoriza o conhecimento. Aqui não é bem assim. Na TV, parece que só se
admira quem participou do
Big Brother, tem dinheiro, é
modelo. A sociedade não põe
na cabeça das crianças que
elas têm de estudar."
Isso se reflete na qualidade da pesquisa brasileira, diz
Hai. Ainda assim, ele diz que
a valorização da ciência tem
melhorado: "Em São Paulo,
não falta financiamento".
Para o pesquisador é estranho sofrer pouca cobrança.
"O docente aqui é funcionário público, não tem tanta
pressão como nos EUA ou na
China. Aqui existem muitos
que se dedicam dia e noite,
mas quem não faz nada continua na universidade."
Existem problemas, mas é
preciso ressaltar as qualidades do país, diz. "As pessoas
são legais, é fácil fazer amizade. Eu gosto muito, gosto do
clima. Só português eu achei
meio complicado", brinca.
Hai acompanha com otimismo as notícias de seu
país. "Quando saí da China
para a Europa, em 1988, ela
era bem fechada. Hoje mudou muito. Ainda não existem jornais particulares, a TV
é estatal. Mas você pode falar
com os seus amigos o que
quiser. Não é que nem a gente vê na televisão aqui."
Diz se impressionar com o
crescimento econômico chinês. "Todo mundo está querendo ficar rico. Deus é grana", brinca. "Se você tem dinheiro, faz o que quiser."
(RM)
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