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Má conduta científica dispara nos EUA
Em 16 anos, denúncias de fraude aumentaram 161%; país gastou US$ 110 mi para investigar 217 casos em 2009
De cada três acusados, um é punido; pressão por produção e briga por cargos e dinheiro induz desvios, diz cientista
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Há cada vez mais sujeira
por baixo dos jalecos brancos: nunca antes os Estados
Unidos, grande potência
científica mundial e pioneiro
na tentativa de coibir fraudes
nos laboratórios, teve tantos
problemas com desvios de
conduta de pesquisadores.
Casos como o de Marc
Hauser, biólogo afastado de
Harvard há uma semana
acusado de distorcer dados
em uma pesquisa sobre
aprendizado em pequenos
macacos, quase triplicaram
nos últimos 16 anos.
Em 1993, quando o governo federal dos EUA criou
uma agência para o assunto,
a ORI (Agência para a Integridade em Pesquisa, na sigla
em inglês), foram relatadas
86 denúncias de desvios.
Em 2009, foram 217, número recorde. O país gastou
cerca de US$ 110 milhões investigando esses casos. Historicamente, um terço das investigações resulta em punição -em geral, afastamento
de cargos e verbas públicas.
O número foi apresentado
pela equipe de Arthur Michalek, biólogo do Instituto Roswell Park (de Nova York), na
edição de ontem da revista
científica "PLoS Medicine".
"Humanos são humanos,
alguns vão se deixar seduzir
e usar certos atalhos em busca do sucesso, por mais antiéticos que eles sejam", disse à Folha. "A esmagadora
maioria dos cientistas são éticos. Infelizmente, trapaças
de poucos mancham o trabalho duro do resto de nós".
Humanos sempre foram
humanos, claro, e fraudes
existem desde sempre.
O homem de Piltdown é citado com frequência como a
maior mentira da história da
ciência, e o caso é de 1908.
Na época, foram apresentados fósseis de um suposto
elo perdido entre humanos e
primatas. Só em 1953 a fraude foi comprovada: tratava-se, na verdade, de uma mistura deliberada de ossos humanos e de orangotango.
Os números americanos,
porém, mostram a má conduta ganhando espaço.
Para Sílvio Salinas, 67, físico da USP, a tentação é maior
entre as gerações mais novas. "Hoje em dia, há uma
enorme pressão, uma grande
disputa por posições", diz.
"Mas os bárbaros não tomaram conta da ciência ainda."
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