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Grupo paulista vê a "assinatura"
genética dos tumores de mama
Análise de conjunto de 12 genes pode facilitar a detecção precoce da doença
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Está decifrada uma parte importante da assinatura genética
do câncer de mama. Os cientistas já sabem quais são os 12 genes que quando têm sua expressão aumentada podem
provocar o surgimento do tumor, o tipo que mais mata mulheres hoje no Brasil.
De posse dessa informação,
diz Rogatto, os médicos poderão detectar com mais precisão
a propensão ao câncer em mulheres saudáveis antes de a
doença aparecer. Basta ver se
esses genes estão superativos.
"Todos eles estão envolvidos
com a proliferação celular",
afirma Silvia Rogatto, pesquisadora da Unesp. O estudo,
apresentado ontem em Salvador, no 54º Congresso Brasileiro de Genética, foi feito em parceria com o Hospital A. C. Camargo, de São Paulo.
Para chegar até o grupo de
genes, os cientistas estudaram
a amostra de tumores de 63 pacientes com câncer de mama. O
país tem 50 mil novos casos da
doença por ano.
Segundo Rogatto, os 12 genes
estudados estão envolvidos
com os receptores ("fechaduras" bioquímicas) de estrógeno
e de progesterona. É bastante
conhecido o papel dessas duas
substâncias na multiplicação
desenfreada de células que caracteriza o tumor.
Além dos 12 genes, que produzem proteínas que agem sobre os dois receptores nas células, o grupo identificou outros
48 que podem modificar o funcionamento normal só dos receptores de estrógeno e outros
42 que têm a mesma influência
sobre os de progesterona.
Devagar com o andor
Apesar de o cerco genético
sobre o câncer de mama ter ficado mais fechado, a complexidade do tumor, segundo Rogatto, ainda desafia os cientistas.
"Os genes envolvidos com a
proliferação celular são parte
da "assinatura" total do câncer
de mama. É preciso saber muito mais, por exemplo, sobre a
genética do processo de invasão do tumor", diz a cientista da
Unesp de Botucatu.
Mesmo com tantos genes
sendo associados ao câncer é
preciso cautela, alerta a também geneticista Luciane Regina Cavalli, do Centro Médico
da Universidade Georgetown
(Estados Unidos).
"Todo mundo pensa que, daqui a pouco, será possível chegar em uma prateleira e pegar a
droga certa para ser usada no
tempo certo. Mas o câncer é
bastante complexo", diz.
Apesar de ser uma grande defensora das pesquisas genômicas, Cavalli defende o uso desses resultados científicos com
muita parcimônia.
"Imagine, em uma entrevista
de emprego, se uma candidata
tiver um conjunto gênico para
o desenvolvimento do câncer
de mama e a outra não tiver. Será que a companhia vai investir
na primeira candidata?" -pergunta a pesquisadora.
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