São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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Grupo paulista vê a "assinatura" genética dos tumores de mama

Análise de conjunto de 12 genes pode facilitar a detecção precoce da doença

EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Está decifrada uma parte importante da assinatura genética do câncer de mama. Os cientistas já sabem quais são os 12 genes que quando têm sua expressão aumentada podem provocar o surgimento do tumor, o tipo que mais mata mulheres hoje no Brasil.
De posse dessa informação, diz Rogatto, os médicos poderão detectar com mais precisão a propensão ao câncer em mulheres saudáveis antes de a doença aparecer. Basta ver se esses genes estão superativos.
"Todos eles estão envolvidos com a proliferação celular", afirma Silvia Rogatto, pesquisadora da Unesp. O estudo, apresentado ontem em Salvador, no 54º Congresso Brasileiro de Genética, foi feito em parceria com o Hospital A. C. Camargo, de São Paulo.
Para chegar até o grupo de genes, os cientistas estudaram a amostra de tumores de 63 pacientes com câncer de mama. O país tem 50 mil novos casos da doença por ano.
Segundo Rogatto, os 12 genes estudados estão envolvidos com os receptores ("fechaduras" bioquímicas) de estrógeno e de progesterona. É bastante conhecido o papel dessas duas substâncias na multiplicação desenfreada de células que caracteriza o tumor.
Além dos 12 genes, que produzem proteínas que agem sobre os dois receptores nas células, o grupo identificou outros 48 que podem modificar o funcionamento normal só dos receptores de estrógeno e outros 42 que têm a mesma influência sobre os de progesterona.

Devagar com o andor
Apesar de o cerco genético sobre o câncer de mama ter ficado mais fechado, a complexidade do tumor, segundo Rogatto, ainda desafia os cientistas. "Os genes envolvidos com a proliferação celular são parte da "assinatura" total do câncer de mama. É preciso saber muito mais, por exemplo, sobre a genética do processo de invasão do tumor", diz a cientista da Unesp de Botucatu.
Mesmo com tantos genes sendo associados ao câncer é preciso cautela, alerta a também geneticista Luciane Regina Cavalli, do Centro Médico da Universidade Georgetown (Estados Unidos).
"Todo mundo pensa que, daqui a pouco, será possível chegar em uma prateleira e pegar a droga certa para ser usada no tempo certo. Mas o câncer é bastante complexo", diz.
Apesar de ser uma grande defensora das pesquisas genômicas, Cavalli defende o uso desses resultados científicos com muita parcimônia.
"Imagine, em uma entrevista de emprego, se uma candidata tiver um conjunto gênico para o desenvolvimento do câncer de mama e a outra não tiver. Será que a companhia vai investir na primeira candidata?" -pergunta a pesquisadora.


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