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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
ONG diz que exploração de recursos naturais deu US$ 12 bi para financiar conflitos
Consumo de rico fomenta guerra de pobre
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
A demanda mundial por telefones celulares, diamantes e móveis
feitos com madeira tropical tem
alimentado guerras que matam
milhões nos países subdesenvolvidos -especialmente na África- e pioram a situação ambiental nessas nações. A conclusão é
de um estudo que acaba de ser
publicado pelo Worldwatch Institute, uma das principais organizações ambientais do planeta.
Segundo o relatório "Anatomy
of Resource Wars" (anatomia dos
conflitos relacionados a recursos), que o Worldwatch lançou
ontem, a exploração de recursos
naturais como petróleo, madeira,
cobalto e coltan (um composto
usado na fabricação de telefones
celulares) rendeu, da década de 90
até o ano passado, cerca de US$ 12
bilhões a grupos rebeldes e governos para financiar conflitos civis e
com outros países.
Nesse período, tais conflitos
mataram e deslocaram 20 milhões de pessoas em países como
Angola, Ruanda, Camboja, Indonésia, Libéria e Serra Leoa.
"É preciso ressaltar que esses
US$ 12 bilhões são apenas estimativas. Os valores reais devem ser
vários bilhões de dólares mais altos", disse à Folha o autor do relatório, Michael Renner.
As "guerras de recursos" são assim chamadas por terem sido
provocadas ou agravadas pela
presença de recursos naturais.
Um exemplo típico foi a guerra civil angolana, na qual a facção rebelde Unita (União Nacional para
a Independência Total de Angola)
comprava armas e abastecia tropas por meio da venda de diamantes a grandes empresas, em
especial a sul-africana De Beers.
O coltan (columbita-tantalita),
minério usado na fabricação de
capacitores para telefones celulares, também foi explorado por
grupos beligerantes rivais na República Democrática do Congo,
onde há abundância do minério.
A partir de 1998, forças contrárias ao governo de Laurent Kabila,
apoiadas por Ruanda, Uganda e
Burundi, contrabandearam coltano do Congo com apoio de empresas européias -aviões da belga Sabena levavam carregamentos de Ruanda para a Europa.
Segundo Renner, as guerras têm
causado impacto ainda difícil de
medir em "hotspots" de biodiversidade, como as florestas congolesas. O parque nacional de Virunga foi invadido por quase 1 milhão
de refugiados ruandeses, que desmataram 75 km2 de área protegida. Em outros parques, populações de gorilas, hipopótamos e
elefantes foram dizimadas por
grupos guerrilheiros.
Renner diz que ainda faltam políticas internacionais de embargo
aos recursos "sujos". Isso começou a ser feito com os diamantes
africanos, mas "muitas empresas
inescrupulosas ainda caminham
na escuridão". Segundo ele, "investir em desenvolvimento humano e educação deve ser prioridade para os países ricos, que até
agora têm se beneficiado de suprimentos baratos de material bruto,
fechando os olhos para a destruição nas suas fontes".
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