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COMPORTAMENTO
Estudo polêmico com infratores juvenis indica que vitaminas, minerais e ácidos graxos afetam violência
Nutrição pode favorecer a agressividade
MARK PEPLOW
DA "NEW SCIENTIST"
Famílias desestruturadas, pobreza e falta de escola são frequentemente enumeradas por
políticos como causas de delinquência. Agora, um grupo de
cientistas britânicos afirma que
boa parte do comportamento anti-social se deve simplesmente à
má nutrição. Seus estudos sugerem que uma dose diária de vitaminas, minerais e ácidos graxos
poderia ajudar a conter o crime.
Trata-se de uma afirmação ousada, recebida com ceticismo. Se
os pesquisadores estiverem certos, eles terão triunfado onde várias gerações de políticos falharam, ao identificar uma maneira
barata e fácil de reduzir a criminalidade. Será que ela se sustenta?
A pesquisa foi financiada pela
organização filantrópica Natural
Justice, que investiga as causas do
comportamento anti-social. Seu
diretor é Bernard Gesch, do departamento de fisiologia da Universidade de Oxford.
"As pessoas presumem que o
comportamento anti-social é inteiramente um problema de personalidade", afirma. "Mas existe
todo um substrato de fatores fisiológicos que pode ser medido
cientificamente." Ele acredita que
muitos presidiários sofrem de
"má nutrição subclínica" -não
grave o suficiente para causar escorbuto, por exemplo, mas capaz
de provocar uma série de comportamentos anti-sociais.
O programa de pesquisas da
Natural Justice começou em 1988,
quando Gesch persuadiu juízes
da Cúmbria (noroeste da Inglaterra) a deixá-lo testar suplementos alimentares em um agressor
juvenil que havia resistido a todas
as outras tentativas de reabilitação. Ele diz que o resultado foi
uma melhora repentina.
Num segundo estudo de caso, a
Natural Justice diz ter interrompido a carreira criminosa de uma
menina elevando a dose diária de
micronutrientes para o mínimo
recomendado pelo governo.
Estudo com 231 jovens
O último estudo da organização
foi feito durante nove meses numa instituição para agressores juvenis na cidade de Aylesbury. Os
pesquisadores acompanharam o
comportamento de 231 internos,
monitorando o número de queixas de mau comportamento que
recebiam dos carcereiros.
Metade dos reclusos tomou doses diárias de 28 vitaminas, minerais e ácidos graxos. O restante recebeu pílulas de placebo (medicamento inócuo). Os cientistas usaram métodos rigorosos de estudos médicos para assegurar a
confiabilidade dos dados.
O resultado foi um assombro:
internos que receberam o suplemento alimentar cometeram 37%
menos agressões que o grupo do
placebo. Quando o teste terminou, os níveis de violência voltaram ao normal.
Quando o estudo saiu na revista
especializada "British Journal of
Psychiatry" (bjp.rcpsych.org), no
começo do ano, a Natural Justice
convocou uma entrevista coletiva. Seguiu-se uma enxurrada de
reportagens sobre pílulas anticrime, algumas não só chamando
atenção para o experimento na
prisão, mas também para a possibilidade de que níveis crescentes
de violência na sociedade fossem
causados por má nutrição.
Como era de esperar, muitos
cientistas pedem cautela. Chris
Bates, da Unidade de Nutrição
Humana do Conselho de Pesquisa Médica, em Cambridge (Reino
Unido), apresenta uma visão típica: "É preciso manter-se cético até
que os dados sejam confirmados
por uma ou mais replicações".
David Benton, da Universidade
de Swansea, que estuda a ligação
entre dieta e humor, concorda: "A
prisão é um cenário que amplifica
o efeito da dieta, porque o ambiente é parecido para todo mundo. Assim, mudanças na dieta
têm um impacto que não seria
aparente no mundo exterior".
Implicações profundas
Muitos cientistas respeitados,
no entanto, acreditam que a pesquisa tem implicações profundas.
"Eu acho, sim, que se trata de um
achado que precisa ser levado a
sério", diz Bates. Peter Rogers,
professor de psicologia na Universidade de Bristol, diz que o
efeito Aylesbury é um "resultado
memorável e potencialmente
muito importante".
Estudos similares têm sido feitos ao longo dos últimos 25 anos.
Stephen Schoenthaler, criminologista da Universidade Estadual da
Califórnia em Long Beach, um
dos principais proponentes do elo
entre criminalidade e dieta, completou três ensaios com resultados similares. "O estudo de Aylesbury verifica independentemente
o que proponho há 20 anos", diz.
Os estudos de Schoenthaler foram acusados de empregar metodologia falha, no entanto, e ele
próprio é uma figura controversa.
Juliet Lyons, do Fundo de Reforma de Prisões do Reino Unido,
ressalva que qualquer contato carinhoso com um adulto -mesmo uma conversa rápida durante
a administração da pílula- pode
ter impacto no comportamento.
Gesch, no entanto, diz que o experimento foi desenhado para eliminar essa possibilidade. O grupo-controle teve exatamente a
mesma quantidade de contato ao
tomar as pílulas, mas não teve
melhora significativa.
Sem "Nature" e "Science"
O fato de que a Natural Justice
tem sua razão de ser em mostrar
que o crime está ligado à dieta pode ter sido um dos fatores para a
"Nature" e a "Science" terem rejeitado o manuscrito de Gesch.
Uma fonte na "Nature" afirma,
no entanto, que a revista raramente publica estudos psicológicos -especialmente quando não
exploram as bases biológicas de
um comportamento particular.
Embora os nutricionistas admitam que sabem muito pouco sobre como a dieta afeta o cérebro,
eles concordam que ácidos graxos
ômega-3, encontrados primariamente em peixes oleosos como o
atum, são importantes para a produção de serotonina, o neurotransmissor responsável pelo humor. "É plausível que suprir presos com esses ácidos graxos essenciais tenha melhorado o funcionamento de seu sistema serotoninérgico", diz Joseph Hibbeln,
do Instituto Nacional de Alcoolismo e Abuso de Álcool (EUA).
As vitaminas geralmente ajudam a acelerar reações químicas
no cérebro. Por exemplo, a vitamina B6 é importante para a síntese de vários aminoácidos, enquanto a B3 é essencial para gerar
energia. "Nossa dieta provê o cérebro com energia e com os tijolos
básicos dos neurotransmissores",
diz Gesch. Ele argumenta que, se a
dieta de alguém é pobre, seu cérebro não funciona direito.
A Natural Justice já está planejando um estudo para tentar esmiuçar como tais micronutrientes afetam a fisiologia. Gesch está
trabalhando com a Unidade de
Nutrição Humana do Conselho
de Pesquisa Médica para elaborar
um experimento que dirá o que
acontece no cérebro dos presos
quando recebem as pílulas.
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