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ARQUEOLOGIA
Guerra que destruiu cidade na Guatemala há 1.200 anos pode ter marcado início do declínio dessa civilização
Escavação acha restos de massacre maia
JOHN NOBLE WILFORD
DO "NEW YORK TIMES"
Arqueólogos e especialistas forenses na Guatemala fizeram uma
descoberta sinistra entre as ruínas
de uma antiga cidade maia, Cancuen. Durante uma exploração no
meio do ano, eles encontraram
cerca de 50 esqueletos numa piscina sagrada e em outros lugares,
vítimas de assassinato e desmembramento numa guerra que destruiu a cidade e, ao que parece,
marcou o início do colapso do Período Clássico da civilização maia.
O declínio dos maias é um dos
maiores mistérios da arqueologia
americana.
Quando a escala do massacre se
tornou aparente, os arqueólogos
chamaram investigadores forenses guatemaltecos, por conta de
sua experiência com enterros em
massa durante conflitos armados.
A equipe, estabelecida em 1996
para escavar as sepulturas coletivas da guerra civil guatemalteca,
também analisou sítios na Bósnia,
em Kosovo e em Ruanda.
Arthur A. Demarest, arqueólogo da Universidade Vanderbilt
que dirigiu as escavações, descreveu a descoberta anteontem, num
anúncio da National Geographic
Society e em uma entrevista por
telefone da Cidade da Guatemala.
"Essa é provavelmente a coisa
mais importante que eu já descobri na vida", disse Demarest, que
explora as ruínas maias desde os
anos 1980.
Num estranho rompimento
com o padrão normal de guerra
maia, disse ele, os conquistadores
-ainda não identificados- não
pouparam a cidade para governá-la como um Estado vassalo.
Por volta de 800 d.C., elas metodicamente destruíram o palácio e
os monumentos e cercaram o rei e
a rainha de Cancuen, junto com
membros da corte, homens, mulheres e crianças. Eles os mataram
em massa, principalmente com
golpes de lança e machadadas no
pescoço ou na cabeça. A maioria
dos seus corpos mutilados foi jogada na piscina do palácio ou enterrada em covas rasas.
"Após esse evento trágico e violento, diferente de tudo que descobrimos num sítio maia clássico", disse Demarest, "a cidade de
Cancuen foi completamente
abandonada, como o foram muitas outras cidades ao longo do
curso" do rio Pasión.
O rio era uma grande rota de comércio na floresta e a fonte da riqueza de Cancuen no século 8º.
Dez anos depois da queda de Cancuen, as outras cidades ribeirinhas foram abandonadas, com a
exceção de Seibal. O deslocamento de pessoas, disse Demarest, teve repercussões por todas as terras maias, eventualmente contribuindo para o fim do período
clássico, que foi de 300 a 900.
David A. Freidel, um especialista em arqueologia maia na Universidade Metodista do Sul que
não esteve envolvido com a pesquisa, concorda que o extermínio
da nobreza e da família real foi
uma grande ruptura com o estilo
de guerra maia do período clássico. "Esse é o tipo de violência extrema que é característico da civilização maia no período de colapso", complementou Freidel.
A descoberta inicial do amontoado de milhares de ossos foi feita por dois arqueólogos guatemaltecos, Sylvia Alvarado, da
Universidade de San Carlos, e Tomas Barrientos, co-diretor do
projeto Cancuen, que também está afiliado à Vanderbilt.
Uma verba da National Geographic Society permitiu que o projeto continuasse com os estudos forenses. A pesquisa irá incluir testes de DNA para determinar se,
como os arqueólogos suspeitam,
a maioria das vítimas era membro
de uma família real estendida.
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