São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 2005

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ARQUEOLOGIA

Guerra que destruiu cidade na Guatemala há 1.200 anos pode ter marcado início do declínio dessa civilização

Escavação acha restos de massacre maia

JOHN NOBLE WILFORD
DO "NEW YORK TIMES"

Arqueólogos e especialistas forenses na Guatemala fizeram uma descoberta sinistra entre as ruínas de uma antiga cidade maia, Cancuen. Durante uma exploração no meio do ano, eles encontraram cerca de 50 esqueletos numa piscina sagrada e em outros lugares, vítimas de assassinato e desmembramento numa guerra que destruiu a cidade e, ao que parece, marcou o início do colapso do Período Clássico da civilização maia. O declínio dos maias é um dos maiores mistérios da arqueologia americana.
Quando a escala do massacre se tornou aparente, os arqueólogos chamaram investigadores forenses guatemaltecos, por conta de sua experiência com enterros em massa durante conflitos armados. A equipe, estabelecida em 1996 para escavar as sepulturas coletivas da guerra civil guatemalteca, também analisou sítios na Bósnia, em Kosovo e em Ruanda.
Arthur A. Demarest, arqueólogo da Universidade Vanderbilt que dirigiu as escavações, descreveu a descoberta anteontem, num anúncio da National Geographic Society e em uma entrevista por telefone da Cidade da Guatemala. "Essa é provavelmente a coisa mais importante que eu já descobri na vida", disse Demarest, que explora as ruínas maias desde os anos 1980.
Num estranho rompimento com o padrão normal de guerra maia, disse ele, os conquistadores -ainda não identificados- não pouparam a cidade para governá-la como um Estado vassalo.
Por volta de 800 d.C., elas metodicamente destruíram o palácio e os monumentos e cercaram o rei e a rainha de Cancuen, junto com membros da corte, homens, mulheres e crianças. Eles os mataram em massa, principalmente com golpes de lança e machadadas no pescoço ou na cabeça. A maioria dos seus corpos mutilados foi jogada na piscina do palácio ou enterrada em covas rasas.
"Após esse evento trágico e violento, diferente de tudo que descobrimos num sítio maia clássico", disse Demarest, "a cidade de Cancuen foi completamente abandonada, como o foram muitas outras cidades ao longo do curso" do rio Pasión.
O rio era uma grande rota de comércio na floresta e a fonte da riqueza de Cancuen no século 8º. Dez anos depois da queda de Cancuen, as outras cidades ribeirinhas foram abandonadas, com a exceção de Seibal. O deslocamento de pessoas, disse Demarest, teve repercussões por todas as terras maias, eventualmente contribuindo para o fim do período clássico, que foi de 300 a 900.
David A. Freidel, um especialista em arqueologia maia na Universidade Metodista do Sul que não esteve envolvido com a pesquisa, concorda que o extermínio da nobreza e da família real foi uma grande ruptura com o estilo de guerra maia do período clássico. "Esse é o tipo de violência extrema que é característico da civilização maia no período de colapso", complementou Freidel.
A descoberta inicial do amontoado de milhares de ossos foi feita por dois arqueólogos guatemaltecos, Sylvia Alvarado, da Universidade de San Carlos, e Tomas Barrientos, co-diretor do projeto Cancuen, que também está afiliado à Vanderbilt.
Uma verba da National Geographic Society permitiu que o projeto continuasse com os estudos forenses. A pesquisa irá incluir testes de DNA para determinar se, como os arqueólogos suspeitam, a maioria das vítimas era membro de uma família real estendida.


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