São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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Grupo põe neurociência social em dúvida

Equipe da Universidade da Califórnia diz que método pode inflacionar a força da ligação entre região cerebral e emoção

Após analisar 50 estudos, o pesquisador Hal Pashler questionou cerca de 30 investigações; cientistas criticados o contestam


DA "NEW SCIENTIST"

Alguns dos resultados mais quentes no domínio da incipiente neurociência social, em que emoções e características comportamentais estão ligadas à atividade em uma região específica do cérebro, podem ser inflados e, em alguns casos, ser inteiramente falsos.
É o que aponta o grupo do psicólogo Hal Pashler, da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). Ele analisou mais de 50 estudos que se apoiam em ressonância magnética funcional do crânio, e questionou os autores sobre seus métodos.
A equipe de Pashler diz que, na maioria dos estudos, que relaciona regiões cerebrais com sentimentos como rejeição social e ciúme, os pesquisadores interpretam os dados através de um método que inflaciona a verdadeira força da ligação entre uma região cerebral e a emoção ou comportamento.
A afirmação é contestada por pelo menos dois dos grupos criticados, que argumentam que Pashler entendeu mal os resultados e que suas conclusões são apoiadas por outros estudos.
Em muitos das pesquisas, os cientistas fazem uma varredura em cérebros de voluntários quando eles completam uma tarefa concebida para suscitar uma emoção especial. Então, os pesquisadores dividem as imagens das varreduras em cubos chamados voxels -cada um deles pode conter milhares de neurônios- e tentam correlacionar a atividade dos voxels com as alterações emocionais relatadas pelos voluntários.
O problema surge quando pesquisadores tentam calcular a força desta correlação. Isto tem de ser feito em duas fases. A primeira é identificar as regiões em que a correlação entre a atividade dos voxels e a emoção ultrapassa um determinado limiar. Na segunda etapa, os pesquisadores avaliam a força da correlação naquela região.
Pashler recomenda que dois conjuntos independentes de exames seja utilizado nessas fases. Se o mesmo conjunto é usado para ambos, há um aumento do risco de interpretar erroneamente ruídos aleatórios como um verdadeiro sinal.
No entanto, em quase 30 dos estudos analisados pelo grupo, os pesquisadores utilizaram a mesma varredura para identificar os voxels de interesse e determinar a correlação final -o que pode produzir ligações entre emoções e regiões cerebrais que, na verdade, não existem.
A falta de dados confiáveis ocorre pela impossibilidade de fazer mais ressonâncias magnéticas -já que são caras- e de conseguir mais voluntários.
Nikolaus Kriegeskorte, do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, tenta medir o número de estudos de neurociência que utilizam esse método porque também acredita que sejam problemáticos. Em 2007, parte de um artigo foi retirado do periódico "Nature Neuroscience" após um pesquisador mostrar que ruídos aleatórios poderiam ter produzido a correlação relatada.


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