São Paulo, sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010 |
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Sem clima, chefe de convenção da ONU sai
Holandês Yvo de Boer renuncia em meio à frustração com fiasco de Copenhague para virar lobista em firma de consultoria
LUCIANA COELHO DE GENEBRA Yvo de Boer, o chefe da Convenção do Clima da ONU, anunciou ontem que deixará o cargo em 1º de julho, em meio à frustração generalizada com o colapso das negociações para conter o aquecimento global. Sua saída não só expõe os impasses do processo nas Nações Unidas como lança de vez o debate sobre clima à deriva. Não se sabe ainda quem sucederá o holandês como secretário-executivo da convenção, um organismo que tem a missão de costurar um acordo global sobre o clima e que congrega, entre seus 194 membros, de países petroleiros a Estados-ilha sob risco de submergir. De Boer, 55, será funcionário da firma global de consultoria e auditoria KPMG. O cargo foi criado para ele e, embora esteja sendo definido, incluirá viagens e constante contato com empresas e governos para "aconselhamento em questões de sustentabilidade", além de atuação em eventos. Empresas na frente "Sempre disse que, embora os governos forneçam o arcabouço necessário em políticas, as verdadeiras soluções devem vir das empresas", declarou. "Copenhague não nos deu um acordo claro em termos legais, mas o compromisso político e a ideia de rumarmos a um mundo de baixas emissões são vigorosos. Isso pede novas parcerias com o setor de serviços", prosseguiu, em nota. Os contatos entre De Boer e a empresa começaram, segundo uma fonte familiarizada com a contratação, antes do colapso de Copenhague, em dezembro. Embora tenha definido sua saída como "decisão difícil", De Boer já tinha dado sinais de sua insatisfação com o processo, que avança para a próxima etapa, em dez meses, no México. Na Dinamarca, economizou nas entrevistas coletivas de praxe, limitando-se a um comunicado em que chamava o Acordo de Copenhague de "carta de intenções". Quando falou, há um mês, disse que os resultados foram "frustrantes". Sugeriu que o processo atual, em que todos debatem todas as decisões, fosse substituído por uma negociação "em partes": alguns poucos países tomariam as decisões-chave e caberia aos demais referendá-las. Sem De Boer, é difícil apostar se a ideia vingará ou não. Nos quatro anos em que esteve à frente da UNFCCC, o midiático diplomata holandês elevou a proeminência da convenção como nenhum de seus antecessores, reunindo-se com líderes e participando de conferências mundo afora. De instituição discreta, a convenção passou à vitrine das Nações Unidas. Por ora, as metas de corte de emissão propostas pelos países não manterão o aquecimento do planeta em até 2C por século, teto que cientistas dizem ser seguro. Os principais emissores, China e EUA, continuam a fugir de metas enquanto trocam acusações e exigências. As dúvidas crescem mais porque Copenhague pariu um documento que, sem o status de compromisso legal, não norteia nada e ainda se soma aos dois trilhos da negociação. "De Boer renunciar é a antecipação de algo que provavelmente aconteceria de qualquer forma, e saindo antes ele dá mais tempo para alguém novo chegar", afirmou à Folha o maltês Michael Zammit-Cutajar, primeiro secretário-executivo da Convenção. "O problema-chave é entender o que vai acontecer em uma situação tão confusa", disse. "Espero que, sob a liderança do México, haja alguma ordem no processo até o fim do ano. É importante saber se os mexicanos vão iniciar consultas." Próximo Texto: Frases Índice |
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