|
Próximo Texto | Índice
ASTRONOMIA
Pesquisa de brasileiro na França mostra que alguns astros gigantes viram buracos negros sem sofrer explosão
Estrela também pode morrer em silêncio
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
As maiores estrelas do Universo, quando crescem até se tornarem supergigantes vermelhas, alcançando assim o fim de sua existência, podem simplesmente sumir -sem escândalos nem explosões gigantescas e violentas.
Em outras palavras, contrariariam a visão costumeira de que só
uma supernova seria um fim digno de supergigantes vermelhas.
A hipótese de que esses astros
volumosos terminem não com
um urro mas com um suspiro é
recente e ainda carece de confirmações. Mas um novo estudo, de
um grupo de astrofísicos da Comissão de Energia Atômica da
França, começa a dar substância à
idéia. Ele traz medições de um buraco negro que parece ter tido
uma dessas despedidas discretas.
O objeto estudado é Cygnus X-1, um sistema binário composto
por um buraco negro e uma estrela maciça com quase 18 vezes a
massa do Sol. A dupla é jovem,
com 5 milhões de anos (o Sol, em
comparação, tem uns 5 bilhões).
Astros temperamentais
A vida de uma estrela não é tão
diferente da carreira de um astro
hollywoodiano. Estrelas pequenas e modestas, como o Sol, quando esgotam seu combustível, dão
tudo de si até atingir um sucesso
momentâneo, tornando-se exuberantes gigantes vermelhas. Mas
no fim acabam encolhendo e resfriando.
Estrelas maiores, com massa
entre 8 e 15 vezes a do Sol, já começam azuis e brilhantes. Ao acabar o gás, na tentativa de sobreviver à inevitável decadência, são
protagonistas de um escândalo:
provocam a explosão de suas camadas exteriores e tumultuam toda a região. Por fim, acabam se
compactando e virando grandes
fontes de radiação -as chamadas
estrelas de nêutrons.
Objetos ainda maiores, com até
40 vezes a massa do Sol, têm trajetória similar. Depois da explosão,
contudo, sua imagem não resiste
ao choque -elas se encolhem até
desaparecer de vista, tornando-se
buracos negros, objetos tão densos que a força gravitacional não
deixa nem a luz escapar.
Finalmente, os astros realmente
grandiosos, com mais de 40 massas solares, evitam escândalos.
Passam direto de gigantes vermelhas a buracos negros, sem a explosão da supernova. Abandonam a carreira no auge do sucesso, enquanto estão por cima. Ou,
pelo menos, é o que diz a teoria.
"Muita coisa sobre as teorias de
supernovas estão sendo reformuladas nos últimos anos", diz Marcos Diaz, astrofísico do Instituto
de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.
O buraco negro de Cygnus X-1
não seria exatamente uma dessas
estrelas 100% discretas. Hoje com
pouco mais que dez massas solares, o objeto, quando chegou ao
final de sua vida, sofreu uma explosão muito sutil -uma "minissupernova", por assim dizer.
"Isso mostra que a intensidade
da explosão, a partir de um certo
valor de massa, começa a decrescer", diz Irapuan Rodrigues, pesquisador brasileiro que é o primeiro autor do estudo.
Ele e seus colegas trabalham
quase como investigadores policiais. Depois de determinar quem
é o suspeito, estudam sua vida
pregressa: a partir de seu curso
atual, descobrem de onde ele partiu e quando. Desse modo, podem
dizer quando um objeto se tornou
supernova e onde isso ocorreu (a
explosão dá um "chute" na estrela
e a põe numa nova rota).
A análise mais recente, de
Cygnus X-1, já foi concluída e submetida à revista "Science" (
www.sciencemag.org). O estudo está
sob revisão, mas, se depender de
Diaz, tem tudo para emplacar. "O
trabalho deles é bem consistente."
Próximo Texto: Saúde: Pneumonia misteriosa afeta 219 pessoas espalhadas por dez países Índice
|