São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2008

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Escritor Arthur C. Clarke morre aos 90

Autor de "2001" e inventor do conceito de satélites geoestacionários foi vítima de parada cardiorrespiratória no Sri Lanka

Britânico escreveu mais de uma centena de livros sobre o espaço, fez previsões sobre o futuro da tecnologia e inspirou conquista da Lua

Gemunu Amarasinghe/Associated Press
O escritor britânico de ficção científica Arthur C. Clarke, morto ontem, em sua biblioteca em Colombo, Sri Lanka, no ano passado


DA REPORTAGEM LOCAL

O inglês Sir Arthur C. Clarke, autor do clássico da ficção científica "2001: Uma Odisséia no Espaço", morreu ontem, aos 90 anos, vítima de problemas cardiorrespiratórios, informou seu assistente Rohan de Silva.
Autor de mais de uma centena de livros sobre o espaço, a ciência e o futuro, Clarke morreu por volta das 17h30 de ontem, no horário de Brasília -1h30 da madrugada de quarta no Sri Lanka, onde residia.
Ele lutava contra uma debilitante síndrome pós-pólio desde a década de 1960 e, nos últimos anos, usava na maior parte do tempo uma cadeira de rodas.
Além de sua obra mais famosa, que rendeu o filme homônimo dirigido por Stanley Kubrick em 1968, o britânico também ficou célebre por suas previsões -a ele é creditada a criação do conceito de satélites de comunicação em 1945, décadas antes de se tornarem realidade.
As órbitas geoestacionárias, que mantêm os satélites em posições fixas em relação ao solo, são conhecidas hoje como órbitas de Clarke.
Durante a evolução de sua descoberta, Clarke trabalhou com cientistas e engenheiros dos EUA para desenvolver espaçonaves e sistemas de lançamento, e fez um pronunciamento na sede das Nações Unidas durante as deliberações para o uso pacífico do espaço.
Após o pouso do homem na Lua em 1969, o governo norte-americano disse que Clarke "forneceu o impulso intelectual que nos levou à Lua".
Em 1989, duas décadas depois do pouso lunar pioneiro da Apollo-11, Clarke escreveu: "2001 foi escrito em uma era que hoje está aquém de um dos grandes divisores de águas da história humana; nós nos separamos dela para sempre no momento em que Neil Armstrong e Buzz Aldrin pisaram no mar da Tranqüilidade. Agora a história e a ficção se tornaram inexoravelmente entremeadas".
Em 1998, recebeu o título de cavaleiro da rainha, pelo conjunto de sua obra. Em dezembro passado, ao completar sua "90ª órbita do sol", o autor listou três desejos: que os extraterrestres entrassem em contato, que a humanidade deixasse a dependência do petróleo e que o Sri Lanka tivesse paz.
Arthur Charles Clarke nasceu em 16 de dezembro de 1917, filho de uma família de fazendeiros em Minehead (Somerset), na Inglaterra.
Mudou-se para Londres em 1936 e, já interessado por ciência espacial, entrou para a Sociedade Interplanetária Britânica, em que começou a contribuir com o boletim informativo e a escrever ficção científica.
Durante a Segunda Guerra, trabalhou com radares para a Força Aérea Britânica. Ao seu término, estudou matemática e física no londrino King's College e, depois, se dedicou integralmente à profissão de escritor, ainda nos anos 1940.
Suas descrições detalhadas de naves espaciais, supercomputadores (como o HAL 9000, de "2001") e sistemas de comunicação atraíram milhões de leitores no mundo todo.
Em 1948 ele escreveu o conto "The Sentinel", que serviria de base para "2001". Tanto o livro quanto o filme teriam uma continuação -em 1982 Clarke escreveria "2010: Odisséia 2", que daria origem a um filme em 1984 ("2010: o Ano em que Faremos Contato").
Sua mudança para o Sri Lanka aconteceu após um casamento fracassado, em 1956.
Entre as motivações para a mudança estavam os mergulhos marinhos que Clarke gostava de fazer, pois ele os considerava o mais próximo que poderia chegar da sensação de flutuar no espaço.

Previsões futuristas
Clarke começou a listar suas previsões científicas em 1958, com uma série de ensaios futurísticos em diversas revistas, que em 1962 seriam reunidos no livro "Perfis do Futuro".
A obra trazia uma linha do tempo que ia até o ano 2100, descrevendo invenções e idéias como a de uma "biblioteca global" em 2005, a existência de um presidente comum em todo o planeta em 2010.
No mesmo livro estavam suas famosas "Três Leis": 1) quando um respeitado, mas idoso cientista diz que algo é possível, ele está, quase certamente, correto. Quando ele diz que algo é impossível, ele está, muito provavelmente, errado; 2) A única maneira de descobrir os limites do possível é se aventurar um pouco além deles e penetrar o impossível; e 3) qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia.


Com agências internacionais


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