São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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Novo dino chinês recua origem das penas

Animal é o mais primitivo réptil descoberto com plumas, o que sugere presença das estruturas nos ancestrais desses bichos

Fóssil não é primo próximo das aves nem dos outros dinos emplumados; para cientista, espécies gigantes perderam essas estruturas

Li Da Xing/AP/Chinese Academy of Geoiogical Sciences
O Tianyulong, é o mais primitivo dino emplumado já descoberto. Como ele não é ancestral das aves, sua descoberta sugere que os ancestrais dos dinossauros fossem criaturas com penas

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

A vida dos evolucionistas e dos ilustradores de livros juvenis pode ficar mais complicada a partir de hoje. Um quarteto de pesquisadores chineses apresenta um fóssil que sugere que os primeiros dinossauros eram criaturas emplumadas.
O animal, batizado Tianyulong confuciusi, habitou a Província de Liaoning (nordeste da China) há cerca de 144 milhões de anos. Ele tinha o dorso coberto de cerdas grossas parecidas com penas, chamadas de "protopenas" pelos cientistas. Até agora, a presença de penas e protopenas só havia sido confirmada em um grupo de dinos, os pequenos terópodes (carnívoros bípedes), considerados os ancestrais das aves.
Ao longo desta década, fósseis desenterrados na China em estado espetacular de preservação mostraram que, nesse grupo, ser emplumado era regra, não exceção.
Acontece que o Tianyulong não tem nenhum parentesco próximo com os terópodes ou com as aves. Ele é membro da ordem dos ornitísquios, uma das duas grandes categorias em que se dividem os dinossauros.
Já os dinossauros emplumados pertencem à ordem dos saurísquios, que reúne os bípedes carnívoros e os herbívoros pescoçudos. Saurísquios e ornitísquios se separaram há mais de 230 milhões de anos; o registro mais antigo de penas é de 145 milhões de anos atrás.
"A descoberta do Tianyulong estende a distribuição das penas aos ornitísquios e implica que os ancestrais comuns dos dinossauros também deveriam ter penas", disse à Folha Hai-Lu You, da Academia de Ciências da China. Ele é coautor do estudo que descreve o animal, hoje, no periódico "Nature".
Segundo Max Langer, paleontólogo da USP de Ribeirão Preto, estruturas semelhantes a penas já haviam sido detectadas antes em um ornitísquio. O importante no novo fóssil é que se trata de uma linhagem de ornitísquios muito primitiva, surgida no fim do Triássico (primeiro período da era dos dinossauros). "Teremos de começar a pensar em todos os dinos pequenos com penas."
Em comentário ao estudo na mesma edição da "Nature", o americano Larry Witmer, da Universidade de Ohio, diz que o achado "bagunça" a origem das penas. Se é que são de fato penas, e não um tipo qualquer de cerda. You diz que as duas hipóteses estão na mesa, mas ele favorece a primeira, devido à presença de um "oco" nos filamentos do fóssil.
Para Langer, a questão que se coloca é: afinal, se os dinos já surgiram emplumados, por que animais como o tiranossauro e o Triceratops não as possuem?
"Nós imaginávamos", diz, que as penas tivessem surgido para isolamento térmico nos pequenos terópodes. Esses animais predadores eram muito ativos. Como não tinham o metabolismo lento dos lagartos, não podiam se dar o luxo de perder calor depressa. Só depois elas teriam sido "cooptadas" pelas aves para o voo.
"Agora temos de explicar por que esses bichos grandes não tinham penas." A hipótese é a de que corpos grandes tivessem inércia térmica, ou seja, demoravam muito tempo para esfriar. Então as penas se tornaram desnecessárias, e foram perdidas em várias espécies.


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