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Grupo explica "cabeça dura" de adolescente
Teste com camundongo identifica como puberdade atrapalha aprendizado; cientistas propõe droga contra mecanismo
Pesquisadora diz ser contra uso de fármaco para alterar comportamento de crianças normais; substância está relacionada com motivação
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
É comum ouvir a piada de
que a cabeça dura dos adolescentes é uma doença sem cura e
que o único jeito de pais lidarem com esse problema é esperar que os filhos cresçam e
aprendam a ouvir os outros.
Um grupo de cientistas nos
EUA, porém, acaba de anunciar
a descoberta do mecanismo celular que afeta a capacidade de
aprendizado na puberdade e
mostrou como uma droga é capaz de reverter o processo.
O fenômeno, por ora, foi demonstrado apenas em camundongos, num experimento que
submeteu roedores adolescentes a tarefas de aprendizado
(veja quadro à dir.). Em estudo
na edição de hoje da revista
"Science", cientistas liderados
por Sheryl Smith, da Universidade do Estado de Nova York,
ligam o problema dos roedores
"teens" a uma proteína específica, a alfa4-beta-delta.
Essa molécula é um receptor
celular. Ela atua como uma "fechadura" bioquímica que fica
na superfície da célula e a faz
reagir de determinada maneira, de acordo com a presença ou
ausência de certa substância: a
"chave" que se liga ao receptor.
Os americanos mostraram que
o receptor estudado por eles
prolifera durante a puberdade
no hipocampo, região cerebral
crucial para o aprendizado.
Cientistas já sabiam que a
puberdade afeta a capacidade
de aprender. Em humanos, a
memória linguística e aquela
que usamos para mapear o espaço a nossa volta ficam prejudicadas. O melhor período para
os pais ensinarem as coisas
mais básicas às crianças, por isso, é antes dos 10 ou dos 12
anos, quando a puberdade começa a produzir alterações em
meninas e meninos.
"Nos primórdios da humanidade, ou quando éramos simples animais, o período anterior à puberdade era aquele em
que efetivamente aprendíamos
com nossos pais coisas como
arranjar comida, encontrar o
caminho para casa e habilidades básicas", afirma Smith.
Ela defende a tese de que a
mente evoluiu para equipar indivíduos que deixavam o núcleo familiar ainda no início da
adolescência, já em busca de
parceiros para constituir família. Nesse contexto, a dificuldade de aprender com os pais estimularia outros tipos de
aprendizado. "Não queremos
mais isso, mas as coisas evoluíram para isso", afirma Smith.
Obediência química
Com suas cobaias, ela mostrou como uma dose extra do
esteroide THP, um hormônio
ligado ao estresse e à motivação, pode reverter o deficit de
aprendizagem. Administrando
a droga no hipocampo dos animais, ela fez com que eles voltassem a aprender bem. Smith,
porém, discorda da ideia de que
a puberdade seja um "problema" que requer ser tratado.
"Não seria uma boa ideia tratar crianças ou adolescentes
em geral com uma droga assim,
mas algumas crianças têm mais
dificuldade de aprender, e nelas
o deficit de aprendizagem da
puberdade é pior", explica.
Uma droga poderia ajudar nesses casos, diz a pesquisadora,
mas o THP não seria adequado.
"O ideal seria desenvolver uma
droga mais seletiva para a alfa4-beta-delta, pois o THP afeta muitos outros receptores."
Uma questão ainda em aberto, porém, é se uma droga assim
não correria o risco de cair na
mesma controvérsia que os
medicamentos para crianças
com deficit de atenção enfrentam hoje. Alguns psiquiatras
acusam colegas de receitarem a
droga ritalina para crianças
normais apenas por comodidade dos pais e professores, pois o
fármaco costuma deixar as
crianças mais quietas.
Smith critica essa conduta.
Segundo ela, formas amenas de
estresse que deixam a criança
motivada, e não acuada, causam liberação natural de THP
no cérebro. "A motivação para
melhorar seria o melhor modo
de abordar o deficit de aprendizagem na puberdade", afirma.
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