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AMBIENTE
Estimativas de devastação da Amazônia para o período 2003-2004 ficaram em 26.130 km2, aumento de 6,23%
Desmatamento é o 2º mais alto da história
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A estimativa de desmatamento
na Amazônia para o período
2003-2004 ficou em 26.130 km2, o
que representa um crescimento
de 6,23% em relação ao consolidado anterior. É o segundo maior
número desde que o monitoramento começou a ser feito, em
1988. Fica atrás apenas do período
1994-1995, quando foram devastados 29.059 km2.
A taxa de crescimento do último biênio também é bem maior
do que a expectativa do governo,
que estava em 2%. Segundo os dados divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente, a área
devastada supera, inclusive, o período 2002-2003, até então o segundo maior da série histórica.
Ao divulgar a área confirmada
de 2002-2003, o Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais)
também anunciou uma alta: passou da estimativa de 23.750 km2
para os 24.597 km2.
Chamando o último aumento
da área desflorestada da Amazônia de "indesejável", a ministra
Marina Silva (Meio Ambiente) citou o crescimento econômico de
2004 como um dos fatores que
ajudam a impulsionar o problema e disse que as medidas do Plano de Controle e Prevenção ao
Desmatamento, adotado no ano
passado, ainda não começaram a
ser percebidas integralmente.
Dos oito Estados monitorados,
seis apresentaram queda na taxa
de desmatamento. Apenas Mato
Grosso e Rondônia continuam
com o índice subindo. A expansão da área agrícola, principalmente soja, ainda é um dos fatores que contribuem para a alta. O
município com maior aumento
de devastação de área, em número absoluto, foi Aripuanã (MT).
"Não queremos justificar o número, que ainda continua alto.
Queremos que ele caia. Mas houve o crescimento econômico de
5% e não podemos esquecer que a
taxa de aumento do desmatamento chegou a 27% [em 2001-2002, comparado ao anterior]",
disse Marina, após quase seis horas de reunião com técnicos e os
colegas Ciro Gomes (Integração
Nacional) e Eduardo Campos
(Ciência e Tecnologia) para apresentar o balanço, fechado na véspera pelo Inpe.
"O que importa é que o crescimento é sistemático quando deveria ser declinante, porque há
menos floresta para derrubar",
disse o economista ambiental
Carlos Young, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Pelos cálculos preliminares do
Inpe, a devastação da Amazônia
já atinge uma área de aproximadamente 680 mil km2, o que é
maior, por exemplo, que os territórios da França e de Portugal.
Representa cerca de 18% do total
da área de floresta monitorado
por meio das imagens de satélite.
Por outro lado, o estoque de floresta primária ainda em pé é de
82% na região.
Comparações
O ministro Ciro Gomes comparou o ritmo de desflorestamento à
velocidade de um carro. "Estamos
inquietos com o número estimado, entretanto temos de ter clareza da questão. Tínhamos um carro correndo a 27 km/h e precisamos reduzir. Isso não se faz do dia
para a noite. Chegamos a 6 km/h e
continuamos nos esforçando."
Ciro Gomes também lembrou
que o Inpe ampliou o número de
imagens usadas para aumentar a
precisão -de 75 para 103.
Marina lembrou a série de ações
que o governo vem adotando no
plano de controle e os resultados
obtidos, como aumento nas infrações cadastradas, maior apreensão de madeira ilegal e instalação
das bases de operação do Ibama
em conjunto com Polícia Federal,
Rodoviária, Exército e Ministério
do Trabalho. Ao citar o novo sistema para tornar disponíveis imagens on-line, o chamado Deter,
Marina disse que essa é uma ação
para integrar a sociedade. "Não
podemos cantar em verso e prosa
a preservação da Amazônia se
não criarmos também uma cultura de preservação."
Para Nurit Bensusan, coordenadora de políticas públicas da ONG
WWF-Brasil, os dados não surpreenderam e já demonstram a
ineficácia do novo plano de combate ao desmatamento engendrado pelo governo. "O que ficou
mais claro é a total ineficiência do
plano. Essa coisa de grupo interministerial, nada funcionou", disse. Para Bensusan, há uma disputa dentro do governo, com políticas contraditórias, "e, até agora,
está claro que o MMA está perdendo. Nas ações que o ministério pode fazer sozinho, está se
saindo bem, mas isso não está
sendo suficiente".
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