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Zoólogos fazem dicionário sobre os animais do Brasil
Obra em dois volumes deve incluir nomes populares e científicos das espécies
Número de verbetes pode
ultrapassar os 40 mil; com
lançamento previsto para
2009, trabalho usou relatos
que remontam ao século 15
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS
Dois zoólogos estão produzindo um dicionário que deve
cobrir a lacuna entre as sabedorias popular e científica sobre
animais brasileiros. Nelson Papavero, do Museu de Zoologia
da USP, e Dante Teixeira, do
Museu Nacional (UFRJ), estão
a poucos anos de completar o
trabalho hercúleo de compilar
o maior número possível de nomes vulgares (não-científicos)
de bichos do Brasil.
Consultando 6.200 fontes,
datadas de desde o século 16, os
pesquisadores coletaram mais
de 38 mil nomes populares de
animais, que devem cobrir de
6.000 a 10 mil espécies. "Mas o
número ainda é uma estimativa", diz Papavero. "Só vamos
saber quantos vão entrar depois que tivermos terminado."
Trabalhando desde 1999, a
dupla prevê concluir o dicionário em 2009, após pesquisas detalhadas de etimologia e de caracterização taxonômica (classificação biológica) para muitas
espécies. Papavero, estima que,
ao fim do trabalho de coleta, o
número supere 42 mil verbetes
de nomes populares, mas volte
a diminuir um pouco depois.
Isso acontece porque há sobreposições -transliterações diferentes para o mesmo nome ou
nomes iguais aplicados a mais
de uma espécie.
O trabalho de Papavero e
Teixeira é o primeiro grande
esforço de compilação desde a
publicação do "Dicionário dos
Animais do Brasil", de Rodolpho von Ihering, de 1940, nunca atualizado. Ele é hoje a principal referência disponível para
nomes populares, mas possui
"apenas" 6.000 verbetes -número extraordinário para a
época em que foi feito.
O novo dicionário sairá em
dois volumes. O primeiro deles
terá o índice pela ordem de nomes populares -acompanhado
de ilustrações sobre os grupos
principais de animais-, e o segundo um índice taxonômico
para buscas pelo caminho inverso. Uma pesquisa etimológica rigorosa deve acompanhar o
trabalho, já que muitos nomes
vêm do tupi e outras línguas indígenas. "Esse trabalho deverá
ser feito por um tupinólogo",
afirma Papavero.
Os pesquisadores dizem
acreditar que a nova obra de referência será um auxílio aos dicionários comuns, nos quais
nomes de animais estão entre
os pontos fracos. "Nem o assum-preto, que aparece em
uma canção do Luiz Gonzaga,
tem verbete", diz Papavero.
Viagem no tempo
As fontes consultadas por
Teixeira e Papavero vão desde
trabalhos científicos e de literatura recentes até relatos de naturalistas e viajantes de séculos
atrás. A diversidade cresce tanto com o tempo e com a distância que algumas espécies possuem dezenas de nomes. Existem, por exemplo, 37 denominações para a tainha (Mugil curema), peixe também conhecido como cambiru, olho-de-fogo, cacetão ou mondego. Há alguns animais com registros de
nomes desde 1500, quando a
expedição do espanhol Vicente
Pinzón desembarcou na ilha de
Marajó. O primeiro animal brasileiro então descrito foi uma
mucura (gambá), que ganhou
diversos outros nomes em outros tempos e lugares.
Uma das principais fontes é o
trabalho de Johann Baptiste
von Spix, naturalista alemão
que visitou o Brasil no século 19
na expedição do botânico Carl
Friedrich Philipp von Martius.
Entre os trabalhos recentes
que mais contribuíram para a
pesquisa está o do grupo da
Universidade Estadual de Feira
de Santana (BA), que estuda o
conhecimento zoológico de comunidades indígenas. O livro
deve acompanhar um CD com
ilustrações da maioria das
obras consultadas que já caíram em domínio público.
Os esforços também geraram
alguns subprodutos durante os
últimos anos, como traduções
de manuscritos inéditos do século 18. Antes de publicar o dicionário, os pesquisadores devem lançar um livro sobre a
fauna de São Paulo e uma versão dos relatos do geógrafo holandês Joannes de Laet.
Papavero apresentaria seu
trabalho amanhã, durante a
reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Florianópolis, mas não poderá comparecer
por problemas logísticos.
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