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Área rica em ferro pode virar reserva
Projetos de parque nacional e de mina da Vale disputam espaço em MG; empresa quer investir R$ 4 bi no lugar
Área, a 50 km de Belo Horizonte, tem mais de 70 cavernas e espécies ameaçadas como o lobo-guará e a onça-pintada
FILIPE MOTTA
DE SÃO PAULO
Dois projetos distintos, um
parque nacional e uma mina
da Vale, disputam o mesmo
espaço na serra da Gandarela, região central de Minas (a
50 km ao leste de BH).
O ICMBio (Instituto Chico
Mendes), órgão do governo
federal que cria e gere as unidades de conservação nacionais, estuda a implantação
de um parque de 27 mil hectares na região -quase o tamanho da Floresta da Tijuca,
no Rio de Janeiro.
Já a Vale quer extrair 24
milhões de toneladas de minério de ferro por ano com o
Projeto Apolo - um investimento de R$ 4 bilhões. "É um
dos maiores investimentos
do setor minerário neste período", diz Cláudio Lopes, do
departamento de Engenharia de Minas da UFMG.
A última grande aposta da
Vale foi a mina de Brucutu,
em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), inaugurada em
2006, com a capacidade de
extrair 30 milhões de toneladas de minério por ano.
O problema é que a cava
da mina Apolo, projetada para cerca de 900 hectares, está
dentro da área que o ICMBio
pretende para o parque.
Autor de uma dissertação
de mestrado na UFMG que
sugere a criação da reserva, o
biólogo Wander Lopes diz
que, além da presença de
mamíferos ameaçados de extinção, como o lobo-guará e a
onça-pintada, a área é especial por ser zona de transição
entre mata atlântica, cerrado
e campos de altitude.
A região, pouco explorada, conta com pelo menos
nove cachoeiras e mais de 70
cavernas -numa das quais
se encontra um sítio com pinturas rupestres.
CANGAS
O biólogo Flávio do Carmo, autor de outra dissertação da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais) que
estudou a serra, conta que a
área é rica em um tipo de formação rochosa difícil de ser
encontrada, as cangas.
Elas são ecossistemas que
afloram no alto das montanhas, onde vivem espécies
raras de vegetais e insetos e
que propiciam a infiltração
da chuva no lençol freático
-tanto que a serra tem nascentes que abastecem parte
da região metropolitana de
Belo Horizonte.
Compostas por crostas de
ferro, as cangas atraem as
mineradoras. A exploração
de minério de ferro fez com
que do total de 18,5 mil hectares da formação que havia
em Minas restem 11 mil. Desse total, 4,5 mil hectares estão na Gandarela, o que justifica o interesse da Vale.
O Projeto Apolo está em fase de licenciamento ambiental na Secretaria de Meio Ambiente do Estado. Já foram
feitas seis audiências públicas nos municípios envolvidos -Caeté, Santa Bárbara,
Raposos, Itabirito, Rio Acima
e Belo Horizonte.
A previsão da secretaria é
que o resultado da análise fique pronto até o final do ano.
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