São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Dino argentino colocava ovos junto a esguicho de água fervente

Calor e acidez ajudavam a chocá-los há 100 milhões de anos

Lucas Fiorelli/Divulgação
Técnico trabalha em ovo fossilizado, provavelmente de um titanossauro, na Argentina

REINALDO JOSÉ LOPES
DE SÃO PAULO

A água fervente, até vaporizada, esguichava das entranhas da terra de quando em quando, cozinhando o solo e as rochas. Ambiente inóspito? Não para bebês de certos dinossauros argentinos.
Um estudo na revista "Nature Communications" sugere que essas fontes de calor eram essenciais para chocar os ovos dos herbívoros grandalhões e pescoçudos que andavam pela Província de La Rioja (noroeste da Argentina) há 100 milhões de anos.
"A presença de ninhos de dinossauros em um ambiente paleohidrotermal [formado por antigas fontes de água quente] é algo único no mundo", diz o paleontólogo Lucas Fiorelli, do Centro Regional de Pesquisas Científicas e Transferência Tecnológica. É a primeira pista direta "sobre o porquê de esses animais escolherem determinada área para fazer seus ninhos", diz.
Em Sanagasta, sítio de La Rioja estudado por Fiorelli, já foram achadas 80 ninhadas, a maioria com até 12 ovos. Os ovos alcançam 21 cm de diâmetro e, pelo formato, devem ter sido botados por titanossauros, grupo mais comum de quadrúpedes de pescoço longo entre os dinos sul-americanos (o interior de SP e MG está cheio de fósseis deles).
O estudo detalhado das rochas revelou um ambiente quase idêntico à região de Yellowstone, nos EUA. Retratada em desenhos animados, Yellowstone é um campo minado de gêiseres (grandes esguichos de água subterrânea aquecida por atividade vulcânica) e fontes termais.
Ao mapear os ninhos, os pesquisadores descobriram que eles eram montados a, no máximo, três metros dessas chaleiras geológicas.
"Outro fator importante, além do calor, teria sido a acidez do líquido, que empapava o solo e ajudava a afinar a casca dos ovos", explica Fiorelli. Embora a casca inicialmente fosse muito espessa, ela iria ficando cada vez mais delgada, ajudando os filhotes a saírem do ovo.
A adaptação dos bichos ao ambiente hidrotermal seria tão minuciosa que um sistema de poros e canais na casca dos ovos ajudaria os filhotes a trocar a quantidade ideal de oxigênio e umidade com o ambiente externo.


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