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Dino argentino colocava ovos junto a esguicho de água fervente
Calor e acidez ajudavam a chocá-los há 100 milhões de anos
Lucas Fiorelli/Divulgação
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Técnico trabalha em ovo fossilizado, provavelmente de um titanossauro, na Argentina
REINALDO JOSÉ LOPES
DE SÃO PAULO
A água fervente, até vaporizada, esguichava das entranhas da terra de quando em
quando, cozinhando o solo e
as rochas. Ambiente inóspito? Não para bebês de certos
dinossauros argentinos.
Um estudo na revista "Nature Communications" sugere que essas fontes de calor
eram essenciais para chocar
os ovos dos herbívoros grandalhões e pescoçudos que
andavam pela Província de
La Rioja (noroeste da Argentina) há 100 milhões de anos.
"A presença de ninhos de
dinossauros em um ambiente paleohidrotermal [formado por antigas fontes de água
quente] é algo único no mundo", diz o paleontólogo Lucas Fiorelli, do Centro Regional de Pesquisas Científicas e
Transferência Tecnológica. É
a primeira pista direta "sobre
o porquê de esses animais escolherem determinada área
para fazer seus ninhos", diz.
Em Sanagasta, sítio de La
Rioja estudado por Fiorelli, já
foram achadas 80 ninhadas,
a maioria com até 12 ovos. Os
ovos alcançam 21 cm de diâmetro e, pelo formato, devem
ter sido botados por titanossauros, grupo mais comum
de quadrúpedes de pescoço
longo entre os dinos sul-americanos (o interior de SP e MG
está cheio de fósseis deles).
O estudo detalhado das rochas revelou um ambiente
quase idêntico à região de
Yellowstone, nos EUA. Retratada em desenhos animados,
Yellowstone é um campo minado de gêiseres (grandes esguichos de água subterrânea
aquecida por atividade vulcânica) e fontes termais.
Ao mapear os ninhos, os
pesquisadores descobriram
que eles eram montados a,
no máximo, três metros dessas chaleiras geológicas.
"Outro fator importante,
além do calor, teria sido a acidez do líquido, que empapava o solo e ajudava a afinar a
casca dos ovos", explica Fiorelli. Embora a casca inicialmente fosse muito espessa,
ela iria ficando cada vez mais
delgada, ajudando os filhotes a saírem do ovo.
A adaptação dos bichos ao
ambiente hidrotermal seria
tão minuciosa que um sistema de poros e canais na casca dos ovos ajudaria os filhotes a trocar a quantidade
ideal de oxigênio e umidade
com o ambiente externo.
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