São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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Brasil freia namoro com observatório da UE

País negocia entrar no ESO, complexo astronômico europeu, mas reclama da "conta"

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O governo brasileiro deve enviar, no início desta semana, uma carta ao diretor-geral do ESO (Observatório Europeu do Sul), Tim de Zeeuw, dizendo que não aceita os termos negociados para a entrada do Brasil na instituição.
"Estou acabando de dar polimento a uma carta comunicando que, nessas condições, nós não vamos entrar", disse à Folha o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende. "Não estamos fechando nenhuma porta, mas os custos não são aceitáveis."
Os termos recusados foram negociados entre o ESO e uma comissão brasileira composta por dois astrônomos e um diplomata.
Eles previam um investimento de 132 milhões de euros como taxa de entrada no consórcio, parcelados em dez anos, e uma anuidade de 13,6 milhões de euros, calculada com base no PIB brasileiro -como é a praxe na organização europeia.
Na prática, seriam R$ 60 milhões anuais. "Para que você tenha uma ideia, o maior investimento de cooperação internacional feito pelo Brasil é o pagamento que fazemos à ONU, que é de R$ 90 milhões."

EUFORIA SIGILOSA
A perspectiva de se unir ao ESO já animava parte da comunidade astronômica brasileira desde a visita de Rezende ao Chile, em fevereiro.
Na semana passada, durante evento em Passa Quatro (MG), Albert Bruch, diretor do LNA (Laboratório Nacional de Astrofísica) e membro da comissão de negociação, falou a cerca de 300 astrônomos sugerindo que eles se apressassem a apresentar projetos de observação nas instalações do ESO no Chile.
Bruch disse que os termos finais do acordo já haviam sido encaminhados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para a aprovação do presidente Lula. Mas acrescentou que nada poderia revelar sobre a proposta finalizada, por estar "sob sigilo".
Alguns astrônomos encaram a ideia de se unir ao ESO com desconfiança. "Trata-se de uma opção péssima", afirma João Steiner, astrônomo do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.
"A astronomia brasileira já teve um investimento de US$ 30 milhões nos últimos 20 anos, que nos deu uma capacidade científica invejável. O gasto com o ESO será de 15 a 20 vezes maior, sem que estejamos preparados para isso."
Um dos pontos criticados é o fato de que ser membro da ESO não garante uso das instalações. Cada projeto precisa ser aprovado por uma comissão internacional.


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