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Brasil freia namoro com observatório da UE
País negocia entrar no ESO, complexo astronômico europeu, mas reclama da "conta"
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O governo brasileiro deve
enviar, no início desta semana, uma carta ao diretor-geral do ESO (Observatório Europeu do Sul), Tim de Zeeuw,
dizendo que não aceita os
termos negociados para a entrada do Brasil na instituição.
"Estou acabando de dar
polimento a uma carta comunicando que, nessas condições, nós não vamos entrar",
disse à Folha o ministro da
Ciência e Tecnologia, Sergio
Rezende. "Não estamos fechando nenhuma porta, mas
os custos não são aceitáveis."
Os termos recusados foram negociados entre o ESO e
uma comissão brasileira
composta por dois astrônomos e um diplomata.
Eles previam um investimento de 132 milhões de euros como taxa de entrada no
consórcio, parcelados em
dez anos, e uma anuidade de
13,6 milhões de euros, calculada com base no PIB brasileiro -como é a praxe na organização europeia.
Na prática, seriam R$ 60
milhões anuais. "Para que
você tenha uma ideia, o
maior investimento de cooperação internacional feito
pelo Brasil é o pagamento
que fazemos à ONU, que é de
R$ 90 milhões."
EUFORIA SIGILOSA
A perspectiva de se unir ao
ESO já animava parte da comunidade astronômica brasileira desde a visita de Rezende ao Chile, em fevereiro.
Na semana passada, durante evento em Passa Quatro (MG), Albert Bruch, diretor do LNA (Laboratório Nacional de Astrofísica) e membro da comissão de negociação, falou a cerca de 300 astrônomos sugerindo que eles
se apressassem a apresentar
projetos de observação nas
instalações do ESO no Chile.
Bruch disse que os termos
finais do acordo já haviam sido encaminhados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para a aprovação do presidente Lula. Mas acrescentou que nada poderia revelar
sobre a proposta finalizada,
por estar "sob sigilo".
Alguns astrônomos encaram a ideia de se unir ao ESO
com desconfiança. "Trata-se
de uma opção péssima", afirma João Steiner, astrônomo
do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.
"A astronomia brasileira já
teve um investimento de US$
30 milhões nos últimos 20
anos, que nos deu uma capacidade científica invejável. O
gasto com o ESO será de 15 a
20 vezes maior, sem que estejamos preparados para isso."
Um dos pontos criticados é
o fato de que ser membro da
ESO não garante uso das instalações. Cada projeto precisa ser aprovado por uma comissão internacional.
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