São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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RADIOASTRONOMIA

Empresas de tecnologia cortam patrocínio do Seti@home, que usa PCs para analisar sinais do espaço

Crise financeira ameaça procura por ETs

CHARLES ARTHUR
DO "THE INDEPENDENT"

O maior projeto mundial de computação, que procura sinais de rádio emitidos por eventuais seres extraterrestres, está encarando um colapso financeiro devido à crise da indústria de alta tecnologia. Isso pode frustrar o desejo de vários cientistas de verificar sinais promissores do espaço em busca de mensagens dos ETs.
As empresas de tecnologia que patrocinaram a maior parte do projeto Seti@home ("Seti at home", ou busca por inteligência extraterrestre em casa), que usa tempo ocioso de PCs para analisar dados vindos do espaço, estão tão sem dinheiro que resolveram cortar as doações para o projeto, que funciona há três anos.
Apesar de mais de quatro milhões de pessoas já usarem o seu programa de descanso de tela -que analisa dados enquanto o computador "dorme"-, o Seti@home precisa de mais de US$ 400 mil anualmente para cobrir seus custos. Com empresas como a Hewlett-Packard e a Sun Microsystems demitindo milhares de pessoas devido à crise, o projeto está tendo de procurar novas fontes de receita -sem sucesso.
"Nossa verba atual segura mais quatro ou cinco meses", disse David Anderson, coordenador do projeto. "Tem sido difícil conseguir doações de dinheiro das empresas", afirmou -ressaltando, no entanto, que a dificuldade vem desde o início do projeto.
O Seti@home começou em 1999 e é uma versão "democratizada" do programa Busca por Inteligência Extraterrestre, que vasculha o espaço com radiotelescópios em busca de sinais padronizados que possam ter origem numa transmissão intencional de ETs.
Qualquer um pode baixar um pequeno programa da página do Seti na internet (www.setiathome.ssl.berkeley.edu), que conecta o computador à internet, baixa um pequeno pedaço de dados de rádio e o analisa enquanto o micro não está sendo usado. Depois de terminar, manda de volta os resultados da análise.

O maior do mundo
Até agora, o projeto usou o equivalente a 1,1 milhão de anos de tempo de processamento e realizou 2 trilhões de gigaflops de cálculos -cada gigaflop equivale a um bilhão de operações. Isso apequena qualquer computação disponível ou feita comercialmente.
Mais significativamente, o projeto detectou um punhado de sinais "candidatos", e a equipe do Seti quer usar o maior radiotelescópio do mundo (em Porto Rico) para tentar confirmá-los. Só que, sem financiamento adicional, isso será impossível.
Um segundo estágio do projeto total, chamado Seti@home 2, começaria uma nova sessão de processamento, gravando sinais do espaço na Austrália.
No entanto, no começo deste mês, o cientista-chefe do Seti@home, Dan Werthimer, disse a colegas australianos num e-mail: "Nossos fundos estão secando e nós temos muitas incertezas sobre o futuro do Seti@home 1 e 2... Eu estou trabalhando duro na tentativa de levantar mais verbas para o projeto, mas, como vocês sabem, este não é um momento fácil para levantar dinheiro".
"Como qualquer projeto de pesquisa, nós vivemos de um financiamento para o outro", admitiu o pesquisador.

Um dia após o outro
Anderson disse estar animado com a perspectiva de um financiamento por parte do governo dos EUA, que, no passado, suspendeu toda destinação de verba pública para projetos de busca por inteligência extraterrestre.
"Nós recentemente recebemos uma verba de US$ 900 mil por três anos da Fundação Nacional de Ciência para desenvolver software para projetos futuros", disse o pesquisador. Só que essa verba não pode ser aplicada ao projeto já em andamento.
"Na pior das hipóteses, nós passaremos a operar com o mínimo de pessoal: uma ou duas pessoas, em vez de cinco, e completaremos a análise dos dados coletados até agora", acrescentou.
Isso poderia levar mais dez anos. Cada sinal é verificado pelo menos três vezes, o que, até agora, só foi feito com cerca de 20% dos dados coletados.


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