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Watson se desculpa por declaração racista
Co-descobridor da estrutura do DNA afirma, no entanto, que questionar bases genéticas da inteligência não é racismo
"Esta não é uma discussão sobre superioridade ou inferioridade, é sobre tentar entender diferenças", diz
cientista em um artigo
Markus Schreiber/Associated Press
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James Watson, 79, pai da biologia molecular, posa atrás de modelo da dupla hélice do DNA, desvendada por ele e Francis Crick
DA REDAÇÃO
O geneticista americano James Watson pediu desculpas
ontem por declarações racistas
dadas a um jornal britânico,
que despertaram uma enxurrada de críticas no mundo inteiro.
Em entrevista nesta semana
ao "Sunday Times", Watson,
co-descobridor da estrutura do
DNA, disse ser "inerentemente
pessimista em relação ao futuro da África" porque "todas as
nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles é igual à nossa
-quanto todos os testes dizem
que não é bem assim". Não explicou que testes são esses.
Ontem, Watson escreveu um
artigo para o jornal "The Independent" dizendo ter sido mal
interpretado. "Àqueles que inferiram das minhas palavras
que a África enquanto continente é de alguma forma geneticamente inferior, só posso me
desculpar sem reservas."
No entanto, o cientista, de 79
anos, insistiu que questionar as
bases genéticas da inteligência
"não é ceder ao racismo".
Leia abaixo o artigo.
A ciência e a controvérsia andam de mãos dadas. A busca da
descoberta, do conhecimento,
é muitas vezes desconfortável e
desconcertante. Eu nunca deixei de dizer aquilo que acredito
ser a verdade, por mais difícil
que isso seja. Às vezes isso me
deixa em maus lençóis.
Raramente, no entanto, mais
do que agora, quando me encontro no centro de uma enxurrada de críticas. Porque, se
eu realmente disse o que me foi
atribuído, então só posso admitir que estou atônito com a declaração. Àqueles que inferiram das minhas palavras que a
África enquanto continente é
de alguma forma geneticamente inferior, só posso me desculpar sem reservas. Não foi isso o
que eu quis dizer. E o que é
mais importante, do meu ponto
de vista, é que não há base científica para tal crença.
Eu sempre defendi que nós
devemos basear nossa visão do
mundo no nosso conhecimento, nos fatos, e não naquilo que
gostaríamos que fosse. É por isso que a genética é importante.
Porque ela nos levará a respostas a várias das grandes e difíceis questões que têm atormentado as pessoas por centenas ou milhares de anos.
Mas essas respostas podem
não ser simples, porque, como
eu bem sei, a genética pode ser
cruel. Meu próprio filho pode
ser uma das suas vítimas. Aos
37 anos, Rufus não pode viver
uma vida independente por
causa da esquizofrenia. Quando ele passou para a adolescência, eu comecei a temer que a
origem de sua vida diminuída
estivesse nos genes. Foi essa
percepção que me levou a ajudar a estabelecer o Projeto Genoma Humano.
Ao fazer isso, eu sabia que
novos dilemas morais surgiriam para estabelecer os componentes éticos, legais e sociais
do genoma. Desde 1978, quando uma jarra de água foi jogada
no meu amigo de Harvard E. O.
Wilson por dizer que os genes
influenciam o comportamento
humano, o ataque à genética do
comportamento tem sido duro.
Mas a irracionalidade deve
recuar logo. Em breve será possível ler mensagens genéticas
individuais a custos que não
quebrarão nossos sistemas de
saúde. Ao fazermos isso, eu espero que vejamos se mudanças
na seqüência de DNA e não influências ambientais resultam
em diferenças de comportamento. Finalmente, nós poderemos estabelecer a importância relativa da natureza em oposição à criação.
Ao descobrir o tamanho da
influência dos genes no comportamento moral, também
poderemos entender como os
genes influenciam a capacidade intelectual. Agora mesmo,
no meu instituto nos EUA, estamos trabalhando em falhas
genéticas no desenvolvimento
do cérebro que levam ao autismo e à esquizofrenia. Poderemos também descobrir que diferenças nesses genes também
levam a diferenças nas nossas
habilidades para executar diversas tarefas mentais.
Em alguns casos, a forma como esses genes funcionam pode nos ajudar a entender variações no QI, ou por que alguns
são excelentes poetas mas péssimos em matemática. Freqüentemente, pessoas com habilidade matemática alta têm traços autistas. Por isso, ao estudar o autismo e a esquizofrenia, acreditamos que chegaremos perto de uma melhor compreensão da inteligência e das
diferenças na inteligência.
Ainda não entendemos direito a maneira pela qual os diferentes ambientes do mundo teriam selecionado os genes que
determinam a nossa capacidade de fazer diferentes coisas. O
desejo esmagador da sociedade
hoje é assumir que poderes
iguais de raciocínio são uma
herança universal da humanidade. Mas simplesmente desejar que seja esse o caso não basta. Isso não é ciência.
Questionar isso não é ceder
ao racismo. Esta não é uma discussão sobre superioridade ou
inferioridade, é sobre tentar
entender diferenças, sobre por
que alguns de nós são grandes
músicos e outros, grandes engenheiros. É muito provável
que 10 ou 15 anos se passem até
que tenhamos um entendimento adequado da importância relativa da natureza e da
criação na conquista de objetivos humanos importantes.
Até lá, nós, enquanto cientistas, devemos tomar cuidado ao
dizer verdades inquestionáveis
sem o apoio de evidências.
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