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CIÊNCIA
Vestígio de rocha de 10 km que há 65 milhões de anos caiu na Terra reforça teoria sobre extinção de dinossauros
Achada pista de "asteróide exterminador'
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
Um meteorito de 2,5 milímetros
indica que o corpo celeste que causou a extinção dos dinossauros foi
um asteróide -e não um cometa,
como ainda se debate-, segundo
um estudo publicado hoje pela revista britânica "Nature".
O meteorito (corpo celeste que
chega à Terra) seria a primeira parte encontrada do asteróide com
cerca de 10 km de diâmetro que teria colidido com a Terra há 65 milhões de anos.
Os asteróides são corpos celestes
que giram em torno do Sol. A
maioria deles se situa entre as órbitas de Marte e Júpiter.
A colisão desse asteróide teria
trazido uma série de problemas
ambientais causadores de extinções em massa de seres vivos, entre
eles os dinossauros, que eram os
animais dominantes no planeta.
O meteorito foi achado bem longe do presumido local do impacto
do asteróide -cerca de 9.000 km a
oeste. Ele foi localizado entre sedimentos retirados do fundo do mar,
no norte do oceano Pacífico.
Já está se criando um consenso
entre cientistas de que o local do
impacto foi a cratera Chicxulub, na
península de Yucatán, sul do México.
O impacto foi tão forte -equivalente à detonação de um arsenal de
bombas nucleares- que espalhou
poeira por todo o planeta, bloqueando a luz do Sol por semanas
ou meses seguidos.
Alguns cientistas estimaram que
o impacto do astro que teria eliminado os dinossauros seria equivalente a dez mil vezes o total de todas as bombas de hidrogênio acumuladas pelas superpotências.
Mas mesmo um impacto bem
menor que esse bastaria para criar
uma escuridão, batizada de "inverno nuclear", capaz de causar a
morte das plantas e, consequentemente, dos dinossauros que as comiam e dos dinossauros que comiam outros dinossauros.
²
Limite entre períodos
O momento do impacto deixou
uma marca no registro geológico,
conhecido como o limite K/T. Ele
caracteriza o momento de transição entre os períodos Cretáceo
(entre 135 e 65 milhões de anos
atrás) e Terciário (de 65 a 2,5 milhões de anos atrás).
Uma das características desse limite é a presença da chamada
"anomalia de irídio", uma presença anormal desse elemento químico.
Os sedimentos achados no Pacífico pertencem a esse limite K/T. O
pesquisador Frank T. Kyte, da
Universidade da Califórnia, em
Los Angeles, afirma na "Nature"
que a composição química do meteorito de 2,5 mm indica que ele teve origem em um asteróide e não
na poeira cósmica típica dos cometas.
Já faz quase duas décadas que os
cientistas de todo o mundo buscam feito detetives uma pista sobre
esse impacto de 65 milhões de anos
que possibilitou aos mamíferos tomar o lugar dos dinossauros na
fauna terrestre.
A hipótese surgiu de um seminal
artigo científico, publicado em
1980 por Walter Alvarez, Frank
Asaro, Helen Michel e Luis Alvarez
(prêmio Nobel de Física). O artigo
era justamente sobre as concentrações de irídio no limite K/T.
Desde então, surgiram outras
possibilidades ainda não de todo
descartadas. O "inverno" poderia
ter sido provocado por uma enorme erupção simultânea de vulcões.
A recente erupção do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, afetou todo o
clima terrestre, provocando uma
diminuição da temperatura graças
a nuvens de partículas que obscureceram o Sol.
"Uma extinção maciça é um
enigma que apresenta certas semelhanças com um assassinato: as
provas existem - anomalias químicas, fragmentos minerais e relações isotópicas que substituem o
sangue, as impressões digitais ou o
caderno de endereços rasgado -,
mas elas estão dispersas pela superfície do globo. No entanto, não
existe nenhuma testemunha ocular, e nenhuma chance de obter
uma confissão. Vários milhões de
anos destruíram ou danificaram a
maior parte das provas, não deixando senão indicadores tênues",
declararam dois dos cientistas que
propuseram a hipótese da extinção
por corpo celeste, Alvarez e Asaro.
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