São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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CIÊNCIA
Vestígio de rocha de 10 km que há 65 milhões de anos caiu na Terra reforça teoria sobre extinção de dinossauros
Achada pista de "asteróide exterminador'

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

Um meteorito de 2,5 milímetros indica que o corpo celeste que causou a extinção dos dinossauros foi um asteróide -e não um cometa, como ainda se debate-, segundo um estudo publicado hoje pela revista britânica "Nature".
O meteorito (corpo celeste que chega à Terra) seria a primeira parte encontrada do asteróide com cerca de 10 km de diâmetro que teria colidido com a Terra há 65 milhões de anos.
Os asteróides são corpos celestes que giram em torno do Sol. A maioria deles se situa entre as órbitas de Marte e Júpiter.
A colisão desse asteróide teria trazido uma série de problemas ambientais causadores de extinções em massa de seres vivos, entre eles os dinossauros, que eram os animais dominantes no planeta.
O meteorito foi achado bem longe do presumido local do impacto do asteróide -cerca de 9.000 km a oeste. Ele foi localizado entre sedimentos retirados do fundo do mar, no norte do oceano Pacífico.
Já está se criando um consenso entre cientistas de que o local do impacto foi a cratera Chicxulub, na península de Yucatán, sul do México.
O impacto foi tão forte -equivalente à detonação de um arsenal de bombas nucleares- que espalhou poeira por todo o planeta, bloqueando a luz do Sol por semanas ou meses seguidos.
Alguns cientistas estimaram que o impacto do astro que teria eliminado os dinossauros seria equivalente a dez mil vezes o total de todas as bombas de hidrogênio acumuladas pelas superpotências.
Mas mesmo um impacto bem menor que esse bastaria para criar uma escuridão, batizada de "inverno nuclear", capaz de causar a morte das plantas e, consequentemente, dos dinossauros que as comiam e dos dinossauros que comiam outros dinossauros.
² Limite entre períodos
O momento do impacto deixou uma marca no registro geológico, conhecido como o limite K/T. Ele caracteriza o momento de transição entre os períodos Cretáceo (entre 135 e 65 milhões de anos atrás) e Terciário (de 65 a 2,5 milhões de anos atrás).
Uma das características desse limite é a presença da chamada "anomalia de irídio", uma presença anormal desse elemento químico.
Os sedimentos achados no Pacífico pertencem a esse limite K/T. O pesquisador Frank T. Kyte, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, afirma na "Nature" que a composição química do meteorito de 2,5 mm indica que ele teve origem em um asteróide e não na poeira cósmica típica dos cometas.
Já faz quase duas décadas que os cientistas de todo o mundo buscam feito detetives uma pista sobre esse impacto de 65 milhões de anos que possibilitou aos mamíferos tomar o lugar dos dinossauros na fauna terrestre.
A hipótese surgiu de um seminal artigo científico, publicado em 1980 por Walter Alvarez, Frank Asaro, Helen Michel e Luis Alvarez (prêmio Nobel de Física). O artigo era justamente sobre as concentrações de irídio no limite K/T.
Desde então, surgiram outras possibilidades ainda não de todo descartadas. O "inverno" poderia ter sido provocado por uma enorme erupção simultânea de vulcões. A recente erupção do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, afetou todo o clima terrestre, provocando uma diminuição da temperatura graças a nuvens de partículas que obscureceram o Sol.
"Uma extinção maciça é um enigma que apresenta certas semelhanças com um assassinato: as provas existem - anomalias químicas, fragmentos minerais e relações isotópicas que substituem o sangue, as impressões digitais ou o caderno de endereços rasgado -, mas elas estão dispersas pela superfície do globo. No entanto, não existe nenhuma testemunha ocular, e nenhuma chance de obter uma confissão. Vários milhões de anos destruíram ou danificaram a maior parte das provas, não deixando senão indicadores tênues", declararam dois dos cientistas que propuseram a hipótese da extinção por corpo celeste, Alvarez e Asaro.



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