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Célula que recria doença em laboratório é avanço do ano
"Science" premia técnica que torna tecido adulto material versátil de pesquisa
Imagens de planetas fora do Sistema Solar e aceleração da leitura de DNA também estão entre os destaques apontados pela revista
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A transformação de células
adultas (como as da pele, por
exemplo) em células-tronco
versáteis usando reprogramação genética é o destaque do
ano na ciência, aponta o tradicional balanço feito pela revista
americana "Science".
Em 2008, dois grupos aprimoraram o uso das chamadas
células iPS, transformando-as
numa ferramenta poderosa para estudar mecanismos biológicos de doenças como diabetes e
Parkinson. E tudo isso foi feito
sem o controverso uso de embriões humanos em pesquisas.
A revista cita a obtenção de
tecido nervoso criado a partir
da pele de uma mulher de 82
anos que tinha esclerose lateral
amiotrófica (doença degenerativa que ataca neurônios motores) e a fabricação de dez linhagens celulares para o estudo de
distrofia muscular, síndrome
de Down e outras doenças.
"O potencial das iPS para revolucionar a pesquisa biomédica e, futuramente, a área clínica
é impressionante. A técnica é
relativamente simples e ninguém sabe como exatamente
ocorre o processo da reprogramação. É um mistério!", afirma
à Folha o neurocientista brasileiro Stevens Rehen, pesquisador da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro).
Essa ferramenta, diz o pesquisador, que trabalha com ela,
abre a possibilidade de que
doenças complexas possam ser
estudadas em células num pires de laboratório.
"Entender os mecanismos
relacionados ao início do mal
de Parkinson em neurônios
humanos era algo impensável
até pouco tempo atrás", diz Rehen. A técnica também será
importante no desenvolvimento de novos fármacos.
Da célula ao espaço
A reprogramação celular foi
escolhida como o primeiro lugar entre os destaques do ano
da "Science", mas os outros nove temas não foram listados em
ordem de importância.
Entre os avanços relacionados estavam a produção de materiais para gerar energia renovável, a genética do câncer (linha de pesquisa onde o Brasil
tem tido bons resultados) e o
aumento da velocidade na tecnologia para seqüenciar DNA.
Máquinas como a da empresa 454, por exemplo, faria em
dez dias a leitura que o Projeto
Genoma do Câncer do Brasil levou dois anos para atingir.
Contudo, avanços na astronomia podem ser tão importantes quanto os do universo
celular. Para o astrônomo Augusto Damineli, da USP (Universidade de São Paulo), o estudo de planetas fora do Sistema
Solar prospera com seus novos
métodos de detecção. Mais de
300 dos chamados exoplanetas
foram achados até agora.
Tudo indica, segundo ele, que
as novas formas de vida que poderão ser identificadas nas próximas décadas ao redor do Universo até ajudarão a corroborar
a Teoria da Evolução, do naturalista Charles Darwin.
"Hoje, temos só um único tipo de vida [na Terra]. Por isso
ainda é difícil comprovar totalmente a teoria do Darwin."
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