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COPENHAGUE 2009
Lula faz ponte entre EUA e China
Brasileiro foi procurado por líderes de países ricos que tentavam dialogar melhor com emergentes
Discurso do presidente indicou frustração e foi o mais aplaudido na plenária; "Todos poderíamos oferecer um pouco mais", afirmou
DOS ENVIADOS A COPENHAGUE
Nenhum dos líderes que subiu ontem ao púlpito do Bella
Center, o centro que abrigou a
malfadada conferência do clima da ONU, foi tão aplaudido
como Luiz Inácio Lula da Silva.
Por cerca de dez minutos, 119
chefes de Estado e de governo,
reunidos para tentar salvar um
acordo no último minuto, ouviram um Lula tão frustrado
quanto eloquente. Falando de
improviso, chamou a atenção
dos países desenvolvidos por
falharem no que poderia ser o
acordo do século e lamentou as
consequências do fracasso para
os países mais vulneráveis.
Quatro longas salvas de palmas pontuaram o momento,
que em nada lembrou a morna
fala da véspera, quando o brasileiro elencara boas intenções
sem surpreender nem cativar.
E, diferentemente da quinta-feira, Lula pôs um trunfo na
mesa para tentar destravar o
impasse fermentado nos últimos 12 dias: uma oferta de contribuição em dinheiro para um
fundo global do clima, como a
Folha havia adiantado já na
quarta-feira que o Brasil faria.
"Se for necessário fazer um
sacrifício a mais, o Brasil está
disposto a colocar dinheiro
também para ajudar os outros
países", disse, sem detalhar.
"Estamos dispostos a participar do financiamento se nós
nos colocarmos de acordo numa proposta final, aqui."
Mas, após uma reunião com
outros líderes que adentrou a
madrugada e que continuaria
horas depois, o presidente se
mostrava sem esperança. "Se a
gente não conseguiu fazer até
agora esse documento, não sei
se algum anjo ou algum sábio
descerá neste plenário e colocará na nossa cabeça a inteligência que faltou até agora."
A fala catalisou os ânimos no
evento. Minutos depois Barack
Obama assumiria o púlpito
com um discurso cheio de senões, em que repassou aos chineses a responsabilidade pelo
fracasso que, para a maioria das
delegações, cabia a ele.
Mediação
A performance de Lula contrastou não só com a do presidente americano, mas com a de
sua chefe de delegação, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil),
que sumiu de cena quando o
presidente chegou.
Desde suas primeiras horas
em Copenhague, Lula encarnou o papel de articulador entre ricos e emergentes.
Recebeu em seu hotel Nicolas Sarkozy (França), Angela
Merkel (Alemanha) e Gordon
Brown (Reino Unido), além do
premiê chinês, Wen Jiabao. Os
europeus, segundo o Itamaraty, procuraram Lula em busca de mediação com o G-77, dos
países em desenvolvimento.
Depois, o brasileiro faria a
ponte entre Obama e Wen, na
busca de uma linguagem adequada para atender aos dois antagonistas no texto final.
Mas os resultados do esforço
não satisfizeram o presidente,
que saiu do Bella Center, sem
falar à imprensa, direto para o
aeroporto. As pistas de seu estado de espírito transpiraram
da plenária: "Todos poderíamos oferecer um pouco mais se
tivéssemos assumido boa vontade nos últimos períodos".
Lula cedeu na questão financeira e, sobretudo, propôs reduções ambiciosas nas emissões de gases-estufa pelo país.
Só não recuou no que o Brasil
sempre pôs como inegociável:
assinar um acordo que desmontasse o Protocolo de Kyoto, único documento legal contra o aquecimento global, que
fixa diferenças nas responsabilidades de países desenvolvidos
e em desenvolvimento. Ele expira em 2012.
(LC, CA, MS)
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