São Paulo, sábado, 19 de dezembro de 2009

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COPENHAGUE 2009

Lula faz ponte entre EUA e China

Brasileiro foi procurado por líderes de países ricos que tentavam dialogar melhor com emergentes

Discurso do presidente indicou frustração e foi o mais aplaudido na plenária; "Todos poderíamos oferecer um pouco mais", afirmou


DOS ENVIADOS A COPENHAGUE

Nenhum dos líderes que subiu ontem ao púlpito do Bella Center, o centro que abrigou a malfadada conferência do clima da ONU, foi tão aplaudido como Luiz Inácio Lula da Silva.
Por cerca de dez minutos, 119 chefes de Estado e de governo, reunidos para tentar salvar um acordo no último minuto, ouviram um Lula tão frustrado quanto eloquente. Falando de improviso, chamou a atenção dos países desenvolvidos por falharem no que poderia ser o acordo do século e lamentou as consequências do fracasso para os países mais vulneráveis.
Quatro longas salvas de palmas pontuaram o momento, que em nada lembrou a morna fala da véspera, quando o brasileiro elencara boas intenções sem surpreender nem cativar.
E, diferentemente da quinta-feira, Lula pôs um trunfo na mesa para tentar destravar o impasse fermentado nos últimos 12 dias: uma oferta de contribuição em dinheiro para um fundo global do clima, como a Folha havia adiantado já na quarta-feira que o Brasil faria.
"Se for necessário fazer um sacrifício a mais, o Brasil está disposto a colocar dinheiro também para ajudar os outros países", disse, sem detalhar. "Estamos dispostos a participar do financiamento se nós nos colocarmos de acordo numa proposta final, aqui."
Mas, após uma reunião com outros líderes que adentrou a madrugada e que continuaria horas depois, o presidente se mostrava sem esperança. "Se a gente não conseguiu fazer até agora esse documento, não sei se algum anjo ou algum sábio descerá neste plenário e colocará na nossa cabeça a inteligência que faltou até agora."
A fala catalisou os ânimos no evento. Minutos depois Barack Obama assumiria o púlpito com um discurso cheio de senões, em que repassou aos chineses a responsabilidade pelo fracasso que, para a maioria das delegações, cabia a ele.

Mediação
A performance de Lula contrastou não só com a do presidente americano, mas com a de sua chefe de delegação, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que sumiu de cena quando o presidente chegou.
Desde suas primeiras horas em Copenhague, Lula encarnou o papel de articulador entre ricos e emergentes.
Recebeu em seu hotel Nicolas Sarkozy (França), Angela Merkel (Alemanha) e Gordon Brown (Reino Unido), além do premiê chinês, Wen Jiabao. Os europeus, segundo o Itamaraty, procuraram Lula em busca de mediação com o G-77, dos países em desenvolvimento.
Depois, o brasileiro faria a ponte entre Obama e Wen, na busca de uma linguagem adequada para atender aos dois antagonistas no texto final.
Mas os resultados do esforço não satisfizeram o presidente, que saiu do Bella Center, sem falar à imprensa, direto para o aeroporto. As pistas de seu estado de espírito transpiraram da plenária: "Todos poderíamos oferecer um pouco mais se tivéssemos assumido boa vontade nos últimos períodos".
Lula cedeu na questão financeira e, sobretudo, propôs reduções ambiciosas nas emissões de gases-estufa pelo país.
Só não recuou no que o Brasil sempre pôs como inegociável: assinar um acordo que desmontasse o Protocolo de Kyoto, único documento legal contra o aquecimento global, que fixa diferenças nas responsabilidades de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ele expira em 2012. (LC, CA, MS)


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