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Ecólogos mapeiam rotas globais de navios
Estudo inédito busca entender como espécies invasoras circulam no mundo
Organização Marítima Internacional não tinha os dados, e cientista fez retrato completo da malha naval de comércio por conta própria
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de cientistas que
estuda as temidas espécies invasoras de ecossistemas acaba
de prestar um serviço pelo qual
economistas poderão agradecê-los: publicaram um mapa
completo da malha de rotas de
grandes navios cargueiros entre portos do mundo todo. O estudo, realizado por ecólogos da
Universidade Carl von Ossietzky, da Alemanha, só foi feito após os pesquisadores descobrirem que a Organização
Marítima Internacional nunca
tinha produzido os dados.
O trabalho, que deve ser publicado ainda neste mês na revista "Journal of Royal Society
Interface", se baseou nas trajetórias que mais de 16 mil navios
cargueiros com capacidade acima de 10 gigatoneladas fizeram
em 2007. Ao final, conseguiu
identificar quais são os portos
mais "centrais" -aqueles incluídos em um número maior
de rotas- e quais ligações são
as mais movimentadas (veja
quadro à esquerda.)
"Deu um trabalho dos infernos", disse à Folha Bernd Blasius, cientista do Instituto de
Química e Biologia para o Ambiente Marinho, entidade que
liderou o estudo na universidade. "No começo, nós quase desistimos, porque achávamos
que teríamos de contatar todas
as empresas de transporte do
mundo, mas hoje já existe um
número grande de navios equipados com AIS [Sistema de
Identificação Automática], e isso ajudou muito."
O cientista se refere ao dispositivo que começou a ser instalado em escala global em
2001 para rastrear navios pelos
seus nomes. Com uma equipe
de apenas quatro pessoas,
Bernd conseguiu classificar os
navios de interesse registrados
no AIS e entender suas rotas
estudando pontos de ancoragem de portos do mundo todo.
"Isso é interessante não apenas para bioinvasão", diz. "Pode ser útil também para entender como nosso navios estão
operando e para achar padrões
em sistemas de comercio."
Invasores de portos
Com a intensificação do comércio marinho, a invasão biológica tem sido fenômeno cada
vez mais comum, frequentemente com consequências desastrosas. Um exemplo clássico
é o do mexilhão-zebra, originário da Rússia. Transportado para os EUA, prolifera como praga entupindo encanamentos e
causando prejuízo. No Brasil, o
siri Charybdis hellerii, natural
do Pacífico, prejudica populações de crustáceos. Tudo indica
que os invasores foram transportados no lastro de navios.
Agora, com seu novo mapa
naval, Blasius deve começar a
fazer o estudo que pretendia
desde o início: identificar as rotas que estão em maior risco de
provocar bioinvasão. "Para isso, será preciso levar em conta
fatores ambientais", explica,
"como temperatura e salinidade da água nos vários portos".
De cara, ele já sabe que petroleiros e os transportadores
de commodities são mais nocivos que outros navios, porque
frequentemente navegam vazios e em rotas mais erráticas.
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