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MEDICINA
Universidades identificam fragmento de proteína em cérebro de ratos que parece controlar dilatação de artérias
Nova molécula pode atacar hipertensão
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma nova geração de remédios
contra a hipertensão pode surgir
de uma fonte no mínimo insuspeita: o cérebro de ratos. É lá que
pesquisadores paulistas acharam
a hemopressina, uma molécula
que tem potencial para gerar anti-hipertensivos até cem vezes mais
potentes que os usados hoje.
Embora os testes em animais
ainda sejam preliminares, o achado poderia, no futuro, desbancar
a bradicinina -molécula descoberta no veneno da jararaca que,
hoje, é usada nos principais remédios contra a hipertensão.
Claro que a nova molécula é um
alvo e tanto, mas o lado mais interessante da nova pesquisa pode
nem ser tê-la encontrado. "A nossa grande descoberta foi um novo
método para descobrir peptídeos
[fragmentos de proteína] biologicamente ativos", diz Emer Ferro,
38, do ICB (Instituto de Ciências
Biomédicas) da USP.
Ou seja, a mesma tática usada
para encontrar o possível anti-hipertensivo pode revelar outras
moléculas com potencial terapêutico, não só do tecido cerebral,
mas de quaisquer células do organismo. O trabalho da Ferro e seus
colaboradores foi anunciado este
mês na revista "Pesquisa Fapesp"
(revistapesquisa.fapesp.br), da
Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo, que financia o projeto.
Conforme explica Fábio Gozzo,
30, pesquisador do Instituto de
Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e co-autor do estudo, o cérebro é o lugar ideal para procurar novos
peptídeos, porque muitos neurotransmissores (os mensageiros
químicos desse órgão) pertencem
a essa classe de substâncias.
"Nós precisávamos de um órgão rico em peptídeos para testar
o método", afirma Gozzo. E a estratégia, compara Ferro, consiste
em transformar tesouras químicas em ímãs moleculares.
As vítimas da metamorfose foram as enzimas, moléculas que
ajudam a quebrar outras moléculas em pedaços menores. A equipe modificou algumas enzimas
que atuam sobre peptídeos, de
forma que elas não fossem mais
capazes de cortá-los, mas ainda
conseguissem grudar neles.
Os ímãs moleculares se saíram
melhor que a encomenda: das 15
substâncias pescadas com eles, 13
eram desconhecidas -entre elas,
a hemopressina. Uma das enzimas na qual ela grudou está ligada
ao controle da pressão arterial em
organismos humanos.
Injetando o novo peptídeo no
sangue de ratos, os pesquisadores
viram que ele reduzia a pressão
arterial, talvez por relaxar os vasos
sanguíneos, o que permite que o
sangue flua com menor pressão.
A ação foi especialmente potente em ratos anestesiados: quase
cem vezes mais forte que a da bradicinina. "Achamos que isso
acontece porque, com a anestesia,
a parte do sistema nervoso que
controla a abertura das artérias
está bloqueada", diz Ferro.
Embora alerte que um novo remédio com a hemopressina esteja
distante, Ferro diz que é possível
melhorar o desempenho da molécula ou associá-la com outros
compostos. A pesquisa, que é parte do doutorado da bióloga Vanessa Rioli, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), foi
publicada pela revista científica
"The Journal of Biological Chemistry" (www.jbc.org).
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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