São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2005 |
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Micro/Macro Protocolo de Kyoto entra em ação
MARCELO GLEISER
Quando se debate a questão climática, dois pontos devem ser considerados. O primeiro, mais óbvio, mas aparentemente esquecido, é que a Terra e sua atmosfera constituem um sistema finito, com capacidade limitada de reprocessamento de gases. Mesmo que a Terra pareça estar "aberta" para o espaço, muito pouco escapa de sua atração gravitacional, inclusive as moléculas dos gases atmosféricos. A maior parte do que é produzido na superfície acaba circulando pela atmosfera, interferindo com sua composição e opacidade. Afirmar que a deposição crescente de gases poluentes é inofensiva a longo prazo é uma posição irresponsável, demonstrando um imediatismo extremamente egoísta. O mundo inteiro e várias gerações futuras sofrerão as conseqüências das escolhas de hoje. O segundo ponto, mais sutil, diz respeito à qualidade das previsões científicas dos efeitos da poluição atmosférica. Infelizmente, pela complexidade do problema, previsões baseadas em simulações de supercomputadores têm ainda validade limitada. É difícil incluir a interação dos oceanos com a atmosfera, as flutuações regionais de temperatura e ventos, e as emissões de gases em escala mundial de modo a obter números concretos. O que se obtêm são indicações do que poderá vir a ocorrer, com grandes incertezas. Os governos que se recusam a ratificar o protocolo citam essas variações como prova da ineficácia dos modelos climáticos: "Não podemos assumir compromissos econômicos que afetam tanta gente antes de estarmos certos". Que o exemplo da Europa, da Rússia e do Japão sirva para abrir os olhos das populações que irão eleger os futuros governos desses países. A decisão de qual será o destino de nosso planeta está nas mãos da sociedade. Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu" Texto Anterior: Lançamentos Próximo Texto: Ciência em Dia: Dorothy e o Grão-Pará Índice |
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