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Hidrelétricas ameaçam a bacia do Prata
Rede de rios que banha centro-sul do Brasil está entre as dez do planeta mais afetadas pela ação humana, diz relatório
Barragens e hidrovias previstas pelo PAC devem aumentar fragmentação
dos cursos d'água da região, de cem milhões de pessoas
DA REDAÇÃO
A bacia do rio da Prata, na
América do Sul, está entre as
dez mais ameaçadas do mundo,
listadas num relatório que a
ONG WWF (Fundo Mundial
para a Natureza) divulga hoje.
A saúde dos rios da região está
ameaçada por 27 projetos de
barragens (seis já em construção) e obras de hidrovias.
A bacia do Prata, que abriga
cem milhões de pessoas em
cinco países, inclui os rios Paraguai, Uruguai e Paraná, entre
outros menores, como o Tietê.
Segundo a WWF, a biodiversidade mais afetada será a do
Pantanal mato-grossense. Ali, a
hidrovia Paraná-Paraguai vai
"aumentar a capacidade de drenagem da foz do rio, afetar populações de peixes locais e expor rios a invasões de espécies
exóticas por meio de ligações
com a bacia do Amazonas".
Na opinião do geógrafo Samuel Barreto, especialista em
recursos hídricos do WWF, as
obras projetadas, incluídas no
PAC (Plano de Aceleração do
Crescimento) -somente na região Sul do Brasil são 15 hidrelétricas- deverão se somar à
fragmentação dos rios já causada por hidrelétricas existentes.
"Haverá alteração do balanço
hídrico e da dinâmica de espécies", afirmou. "A análise que a
gente viu do PAC não faz nenhuma menção a critérios ambientais, o que é um erro estratégico", continuou Barreto.
O presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica, Jerson Kelman, contesta a visão
geral da WWF. "A partir da década de 1970, a vazão da bacia
do Prata tem aumentado", disse. "Há mais água no rio Paraná
e no Prata. O lençol freático de
Buenos Aires subiu."
Para Kelman, sem barragens,
"haveria prejuízos por causa de
enchentes". Ele discorda que o
PAC seja omisso com o ambiente. "O Brasil pode ser criticado por excesso [de rigor], não
por falta. É o país que mais abdica de fazer obras por conta de
restrições ambientais."
O relatório do WWF aponta a
construção de barragens e
obras para hidrovias como as
ameaças mais disseminadas
pelo mundo. O excesso de extração de água, as espécies invasoras, a mudança climática, a
sobrepesca e a poluição são os
outros fatores de pressão.
Para lidar com problemas como os da bacia do Prata, o relatório propõe medidas que minimizem o impacto humano.
Seria preciso, por exemplo,
"evitar barragens em grandes
planícies", "permitir a passagem segura de peixes" e "controlar o fluxo de sedimentos".
O continente com mais bacias hidrográficas ameaçadas
listadas no relatório é a Ásia,
com cinco.
Enquanto rios como o Indo sofrem com o aquecimento global
-suas águas vêm de geleiras
que estão minguando-, outros,
como o Yangtze, sofrem com
poluição e sobrepesca.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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