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Remédio pode atacar obesidade e câncer
Grupo de casal brasileiro nos EUA achou modo de "endereçar" droga rumo a vasos sanguíneos que alimentam gordura
Após sucesso com roedores
e macacos, cientistas obtêm
permissão para fazer teste
em obesos com tumor; há
sinal de elo entre problemas
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
"É o sonho americano: comer
à vontade, ver televisão e ainda
por cima emagrecer", brinca o
médico brasileiro Wadih Arap,
referindo-se aos macacos resos
nos quais ele e seus colegas testaram, por enquanto com sucesso, uma nova estratégia contra a obesidade. Os resultados
promissores já geraram uma
permissão para aplicar a terapia em pessoas obesas e com
câncer, atacando os dois problemas de uma vez só.
O plano dos pesquisadores é
diminuir o suprimento de sangue que chega até o tecido adiposo (formado por gordura), o
que levaria à perda de peso nos
pacientes. Como parece haver
uma correlação entre excesso
de peso e surgimento de câncer
-no caso, tumores de próstata-, há a esperança de que surja um efeito terapêutico duplo.
Marido e mulher
Arap, que trabalha no Centro
de Câncer M.D. Anderson, na
Universidade do Texas, apresentou os dados durante o Encontro Global de Ciência
Translacional A.C. Camargo,
organizado pelo hospital de
mesmo nome em São Paulo. O
grupo de pesquisadores, que inclui também a mulher de Arap,
Renata Pasqualini, deve começar a testar a abordagem em
humanos neste ano.
O médico explica que seu trabalho seguiu uma trilha sugerida por Judah Folkman (1933-2008), pesquisador americano
pioneiro na tentativa de combater tumores cortando os vasos sanguíneos que os alimentam. Folkman tinha mostrado
que, inibindo a formação de artérias no tecido adiposo, havia
uma leve perda de peso.
Arap, Pasqualini e companhia juntaram essa ideia com
outra de sua própria lavra: a de
identificar os "CEPs" de cada
tecido, ou seja, moléculas que
tinham endereço certo, correspondendo a células em áreas
específicas do organismo. Para
ser mais exato, o grupo conseguiu identificar o "CEP" dos vasos sanguíneos que alimentam
o tecido gorduroso, inicialmente em camundongos.
Passo seguinte: juntar uma
molécula endereçada precisamente a esses vasos com outra
capaz de destruí-los. Foi o que o
grupo fez em 2004, num artigo
publicado na revista científica
"Nature Medicine", no qual
eles conseguiram fazer com
que camundongos cronicamente obesos voltassem a ter
peso de bichos normais.
Mas o organismo de roedores
é bem diferente do de primatas
como os seres humanos, o que
levou a equipe a novos testes
com animais, desta vez com babuínos e macacos resos. Essa
última espécie fica obesa de
forma relativamente fácil em
cativeiro. "Um exemplo é a
Fatty Patty ["Patty Gordinha']",
brincou Arap, mostrando a foto
de uma macaca rechonchuda.
"Eles tendem a comer muito
em cativeiro, e adoram assistir
ao Disney Channel." Nem esse
estilo de vida, contudo, impediu que os bichos perdessem
15% do peso corporal, e uma
fração correspondente da circunferência de sua cintura -ficaram, portanto, menos barrigudos. Os resultados foram
submetidos para publicação
em revistas científicas.
Homens obesos têm chance
aumentada de desenvolverem
câncer de próstata, o que levou
o grupo a propor o teste clínico
da abordagem. "Há indícios de
que o papel endócrino [hormonal] da gordura contribua para
o câncer, além de favorecer o
crescimento dos vasos sanguíneos que acabam alimentam o
tumor", explica Arap.
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