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Nasa corre para corrigir falhas de sonda marciana
Programação da espaçonave que decola em agosto ainda está passando por revisão; brasileiro comanda testes
Com orçamento de US$ 400
milhões, a Phoenix tentará
fazer o pouso mais barato
da história em Marte, atrás
de água e vestígios de vida
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Nasa está tentando resolver na última hora uma série de
problemas que podem comprometer a missão da Phoenix, a
próxima sonda a ser enviada a
Marte. A programação da espaçonave robótica, que deverá
analisar o solo da região para
conhecer o histórico da água no
planeta, ainda está passando
por uma série de alterações
quase às vésperas da decolagem, marcada para 3 de agosto.
O principal risco, dizem os
cientistas, é a espaçonave não
conseguir pousar num lugar liso, adequado para ela se equilibrar e fazer seu trabalho com
sucesso. "A espaçonave tem um
metro de altura. Se houver pedras maiores que isso e ela aterrissar em cima de uma, a missão acaba antes de começar",
disse à Folha Nilton Rennó,
cientista brasileiro da Universidade de Michigan (EUA), que
a Nasa encarregou de apontar
problemas e propor soluções.
No caso da descida, o orçamento apertado para a tecnologia de aterrissagem não deixou
muitas opções. "O que a gente
fez foi procurar o lugar mais
plano e com o menor número
possível de pedras, dentro da
região de interesse para o pouso", diz Rennó. "Vamos cruzar
os dedos e esperar."
O fantasma que assombra os
encarregados da missão tem
nome e sobrenome: Mars Polar
Lander, a sonda lançada em
1999 que a Nasa perdeu em
Marte. Essa foi a última vez que
os americanos tentaram fazer
um pouso barato no planeta
vermelho. Tanto a Phoenix
quanto a Polar Lander tiveram
orçamento na faixa dos US$
400 milhões, enquanto a bem-sucedida missão dos jipes robóticos Spirit e Opportunity
custou pelo menos o dobro.
A semelhança da Phoenix
com a malfadada Polar Lander,
porém, não é só o orçamento
baixo. O módulo de aterrissagem -a proteção que a espaçonave usa para penetrar a atmosfera marciana- das duas é
o mesmo, mas tem alguns
aperfeiçoamentos. "O pessoal
estudou cuidadosamente todos
os detalhes para corrigir as falhas", diz Rennó.
O segundo risco que a missão
envolve, diz o cientista brasileiro, é o de os propulsores da
Phoenix espalharem toda a
poeira do local na hora do pouso. Se isso acontecer, a espaçonave não conseguirá cumprir
um de seus objetivos: o de coletar partículas de solo soltas para analisar a possibilidade de a
superfície polar de Marte abrigar vida. E, mesmo que isso não
aconteça, ainda há o risco de a
Phoenix contaminar com seu
próprio combustível as amostras coletadas.
Rennó está conduzindo uma
série de experimentos para simular o espalhamento de poeira no pouso da Phoenix, mas o
resultado de alguns deles só vai
sair quando a espaçonave já estiver a caminho do planeta. Algumas correções podem ser
feitas agora -outras não.
"Quando a gente percebeu
que ia levantar bastante poeira,
o que a Lockheed Martin [empresa contratada para montar a
sonda] fez foi, em vez de programá-la para aterrissar totalmente na vertical, colocar um
certo movimento horizontal,
que evita que ela tire toda a
poeira do local", diz Rennó.
O espalhamento de poeira,
contudo, não compromete o
principal objetivo da missão,
que é raspar e coletar o gelo de
superfície para analisar o passado hidrológico e climático do
planeta. A espaçonave possui
equipamentos internos que farão isso e transmitirão os resultados à Terra.
A Phoenix pertence à classe
de missões que a Nasa apelidou
de "batedoras", mais rápidas e
baratas, e totalmente programadas por cientistas. Para
Rennó, é um risco que vale a
pena correr, pois são elas que
abrem caminho para as sondas
"capitânias", mais caras e robustas, como o Mars Science
Laboratory, um grande jipe-robô que deve partir em 2009.
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