São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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Nasa corre para corrigir falhas de sonda marciana

Programação da espaçonave que decola em agosto ainda está passando por revisão; brasileiro comanda testes

Com orçamento de US$ 400 milhões, a Phoenix tentará fazer o pouso mais barato da história em Marte, atrás de água e vestígios de vida

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Nasa está tentando resolver na última hora uma série de problemas que podem comprometer a missão da Phoenix, a próxima sonda a ser enviada a Marte. A programação da espaçonave robótica, que deverá analisar o solo da região para conhecer o histórico da água no planeta, ainda está passando por uma série de alterações quase às vésperas da decolagem, marcada para 3 de agosto.
O principal risco, dizem os cientistas, é a espaçonave não conseguir pousar num lugar liso, adequado para ela se equilibrar e fazer seu trabalho com sucesso. "A espaçonave tem um metro de altura. Se houver pedras maiores que isso e ela aterrissar em cima de uma, a missão acaba antes de começar", disse à Folha Nilton Rennó, cientista brasileiro da Universidade de Michigan (EUA), que a Nasa encarregou de apontar problemas e propor soluções.
No caso da descida, o orçamento apertado para a tecnologia de aterrissagem não deixou muitas opções. "O que a gente fez foi procurar o lugar mais plano e com o menor número possível de pedras, dentro da região de interesse para o pouso", diz Rennó. "Vamos cruzar os dedos e esperar."
O fantasma que assombra os encarregados da missão tem nome e sobrenome: Mars Polar Lander, a sonda lançada em 1999 que a Nasa perdeu em Marte. Essa foi a última vez que os americanos tentaram fazer um pouso barato no planeta vermelho. Tanto a Phoenix quanto a Polar Lander tiveram orçamento na faixa dos US$ 400 milhões, enquanto a bem-sucedida missão dos jipes robóticos Spirit e Opportunity custou pelo menos o dobro.
A semelhança da Phoenix com a malfadada Polar Lander, porém, não é só o orçamento baixo. O módulo de aterrissagem -a proteção que a espaçonave usa para penetrar a atmosfera marciana- das duas é o mesmo, mas tem alguns aperfeiçoamentos. "O pessoal estudou cuidadosamente todos os detalhes para corrigir as falhas", diz Rennó.
O segundo risco que a missão envolve, diz o cientista brasileiro, é o de os propulsores da Phoenix espalharem toda a poeira do local na hora do pouso. Se isso acontecer, a espaçonave não conseguirá cumprir um de seus objetivos: o de coletar partículas de solo soltas para analisar a possibilidade de a superfície polar de Marte abrigar vida. E, mesmo que isso não aconteça, ainda há o risco de a Phoenix contaminar com seu próprio combustível as amostras coletadas.
Rennó está conduzindo uma série de experimentos para simular o espalhamento de poeira no pouso da Phoenix, mas o resultado de alguns deles só vai sair quando a espaçonave já estiver a caminho do planeta. Algumas correções podem ser feitas agora -outras não.
"Quando a gente percebeu que ia levantar bastante poeira, o que a Lockheed Martin [empresa contratada para montar a sonda] fez foi, em vez de programá-la para aterrissar totalmente na vertical, colocar um certo movimento horizontal, que evita que ela tire toda a poeira do local", diz Rennó.
O espalhamento de poeira, contudo, não compromete o principal objetivo da missão, que é raspar e coletar o gelo de superfície para analisar o passado hidrológico e climático do planeta. A espaçonave possui equipamentos internos que farão isso e transmitirão os resultados à Terra.
A Phoenix pertence à classe de missões que a Nasa apelidou de "batedoras", mais rápidas e baratas, e totalmente programadas por cientistas. Para Rennó, é um risco que vale a pena correr, pois são elas que abrem caminho para as sondas "capitânias", mais caras e robustas, como o Mars Science Laboratory, um grande jipe-robô que deve partir em 2009.


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