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ASTRONÁUTICA
Apesar dos sucessos, falhas como a da Contour projetam dúvidas sobre a capacidade da agência espacial
Perda de sonda abala estratégia da Nasa
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
No espaço, ninguém ouve você
falhar. Já na Terra, o defeito que
pôs a perder mais uma sonda da
Nasa está fazendo muito barulho.
Volta o pesadelo de que pode haver uma falha fundamental no
modo como a agência espacial
americana tem administrado suas
missões de exploração do Sistema
Solar nos últimos anos. O lema
"faster, better, cheaper" (mais rápido, melhor, mais barato) está
novamente em xeque.
Não é a primeira vez que acontece. A perda da Contour, projetada originalmente para visitar dois
cometas, é apenas o último capítulo de uma longa novela de alegrias e tristezas da agência espacial dos EUA. Aliás, até mesmo essa parte da história ainda pode
guardar alguma surpresa.
"Há gente na equipe do controle
da missão que acredita que ainda
existe uma nave funcionando lá
fora", diz Michael Buckley, porta-voz do APL (Laboratório de Física
Aplicada) da Universidade Johns
Hopkins. O grupo seguirá monitorando o espaço durante toda a
semana, na esperança de ouvir algum sinal da Contour.
Sem contato
O pesadelo para os engenheiros
começou na última quinta-feira.
Após o disparo programado do
foguete de combustível sólido da
Contour que a tiraria de órbita e a
enviaria rumo ao cometa Encke, o
controle da missão não conseguiu
restabelecer contato com a sonda.
A única forma de a Nasa saber o
que está acontecendo lá fora é por
meio das informações enviadas
pela sonda. Quando ela não responde, a equipe precisa simplesmente partir do zero -começando pela tarefa de descobrir em que
lugar a nave está.
Com a ajuda de astrônomos
amadores e profissionais que,
munidos de telescópio, perscrutaram os céus à procura da Contour, a sonda foi localizada. E a
má notícia: em dois pedaços.
Resta saber se algum deles ainda
serve para alguma coisa. "Ainda
não determinamos a massa dos
dois pedaços. Pode ser que apenas
uma peça tenha se soltado, mas a
sonda remanescente permaneça
funcional. Ainda há esperança."
De toda forma, é improvável
que o contato seja retomado, ou
que a missão possa ser restaurada,
de algum modo.
O barato sai caro
A falha ocorreu durante o disparo do poderoso motor da sonda.
Ele poderia ter sido dispensado
do projeto caso a agência projetasse a nave para tomar seu rumo
imediatamente após o lançamento. Bastaria para isso orçar US$ 10
milhões a mais para a missão. A
economia pode ter custado os
US$ 159 milhões que foram gastos
na Contour e oferece um incômodo indício de que nem sempre
"mais rápido" e "mais barato" são
compatíveis com "melhor".
A estratégia que quer aliar bom
e barato (e que seria utópica, segundo muitos engenheiros) já
custou outras perdas desde sua
implantação, em 1993. Na mais
notável delas, duas sondas enviadas a Marte (Mars Climate Orbiter e Polar Lander) foram perdidas de uma vez só, em 1999.
A perda da Contour entra nessa
lista trazendo o lembrete de que
as lições a serem aprendidas com
as falhas anteriores talvez ainda
não o tenham sido. Segundo os
envolvidos no projeto, não se pode tirar conclusões precipitadas.
"É muito cedo para dizer o que
isso implica para o "faster, better,
cheaper" ", diz Buckley. "Ainda
precisamos restabelecer contato
com a sonda para descobrir o que
deu errado. Se não conseguirmos,
a falha provavelmente permanecerá um mistério."
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