São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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ASTRONÁUTICA

Apesar dos sucessos, falhas como a da Contour projetam dúvidas sobre a capacidade da agência espacial

Perda de sonda abala estratégia da Nasa

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

No espaço, ninguém ouve você falhar. Já na Terra, o defeito que pôs a perder mais uma sonda da Nasa está fazendo muito barulho. Volta o pesadelo de que pode haver uma falha fundamental no modo como a agência espacial americana tem administrado suas missões de exploração do Sistema Solar nos últimos anos. O lema "faster, better, cheaper" (mais rápido, melhor, mais barato) está novamente em xeque.
Não é a primeira vez que acontece. A perda da Contour, projetada originalmente para visitar dois cometas, é apenas o último capítulo de uma longa novela de alegrias e tristezas da agência espacial dos EUA. Aliás, até mesmo essa parte da história ainda pode guardar alguma surpresa.
"Há gente na equipe do controle da missão que acredita que ainda existe uma nave funcionando lá fora", diz Michael Buckley, porta-voz do APL (Laboratório de Física Aplicada) da Universidade Johns Hopkins. O grupo seguirá monitorando o espaço durante toda a semana, na esperança de ouvir algum sinal da Contour.

Sem contato
O pesadelo para os engenheiros começou na última quinta-feira. Após o disparo programado do foguete de combustível sólido da Contour que a tiraria de órbita e a enviaria rumo ao cometa Encke, o controle da missão não conseguiu restabelecer contato com a sonda.
A única forma de a Nasa saber o que está acontecendo lá fora é por meio das informações enviadas pela sonda. Quando ela não responde, a equipe precisa simplesmente partir do zero -começando pela tarefa de descobrir em que lugar a nave está.
Com a ajuda de astrônomos amadores e profissionais que, munidos de telescópio, perscrutaram os céus à procura da Contour, a sonda foi localizada. E a má notícia: em dois pedaços.
Resta saber se algum deles ainda serve para alguma coisa. "Ainda não determinamos a massa dos dois pedaços. Pode ser que apenas uma peça tenha se soltado, mas a sonda remanescente permaneça funcional. Ainda há esperança."
De toda forma, é improvável que o contato seja retomado, ou que a missão possa ser restaurada, de algum modo.

O barato sai caro
A falha ocorreu durante o disparo do poderoso motor da sonda. Ele poderia ter sido dispensado do projeto caso a agência projetasse a nave para tomar seu rumo imediatamente após o lançamento. Bastaria para isso orçar US$ 10 milhões a mais para a missão. A economia pode ter custado os US$ 159 milhões que foram gastos na Contour e oferece um incômodo indício de que nem sempre "mais rápido" e "mais barato" são compatíveis com "melhor".
A estratégia que quer aliar bom e barato (e que seria utópica, segundo muitos engenheiros) já custou outras perdas desde sua implantação, em 1993. Na mais notável delas, duas sondas enviadas a Marte (Mars Climate Orbiter e Polar Lander) foram perdidas de uma vez só, em 1999.
A perda da Contour entra nessa lista trazendo o lembrete de que as lições a serem aprendidas com as falhas anteriores talvez ainda não o tenham sido. Segundo os envolvidos no projeto, não se pode tirar conclusões precipitadas.
"É muito cedo para dizer o que isso implica para o "faster, better, cheaper" ", diz Buckley. "Ainda precisamos restabelecer contato com a sonda para descobrir o que deu errado. Se não conseguirmos, a falha provavelmente permanecerá um mistério."


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