São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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Fóssil detalha como a vida conseguiu deixar o oceano

Análise de "elo perdido" exibe fases intermediárias da evolução dos vertebrados Estudo anatômico profundo de fóssil descoberto em 2006 mostra que mudança de ambiente não se resume ao aparecimento de patas

Ted Daeschler
Fóssil do peixe, chamado de "elo perdido", Tiktaalik roseae

JOHN NOBLE WILFORD
DO "NEW YORK TIMES"

Em um novo estudo de um fóssil de um peixe que viveu há 375 milhões de anos, cientistas encontraram fortes evidências dos passos intermediários que fizeram com que alguns vertebrados marinhos evoluíssem em animais que começaram a andar sobre a terra.
Existe muito mais complexidade na transição entre a água e a terra do que simplesmente nadadeiras evoluindo para membros robustos. A cabeça e o crânio mudaram, um pescoço móvel surgiu. Um osso associado com a alimentação subaquática e a respiração por brânquias perdeu tamanho, enquanto surgia o início de uma adaptação óssea voltada para a audição dos animais terrestres.
A anatomia dessas transformações primitivas na passagem da vida da água para a terra nunca havia sido observada antes com tanta clareza, paleontólogos e biólogos disseram na semana passada nos Estados Unidos, durante o anúncio dos resultados.
Os cientistas escreveram em um artigo publicado na revista científica "Nature" que a pesquisa expõe detalhes delicados da cabeça e do pescoço da criatura, confirmando e ajudando a elaborar melhor a sua posição evolutiva como "um importante estágio na origem dos vertebrados terrestres".
Neste caso, o peixe, um predador de quase três metros, é o antecessor dos anfíbios, répteis e dinossauros, mamíferos e eventualmente humanos. A espécie fóssil, nomeada Tiktaalik roseae, tem o apelido de peixe-quase-tetrápode, por suas estruturas semelhantes às dos peixes combinadas com apêndices similares aos dos tetrápodes, animais terrestres com quatro membros.
A nova pesquisa da cabeça do esqueleto do fóssil foi conduzida na Academia de Ciências Naturais na Filadélfia e pela Universidade de Chicago.
"O crânio, o palato [osso do céu da boca] e o esqueleto do arco branquial do Tiktaalik acabam de ser revelados em grande detalhe", disse Jason Downs, pesquisador da Academia de Ciências e principal autor do artigo científico. "Pela revelação dos novos detalhes do padrão de mudança nesta parte do esqueleto, nós vimos que as características do crânio uma vez associadas com os animais que vivem na terra foram adaptadas primeiro para a vida em águas rasas."
Desde 2006, quando a descoberta do fóssil foi anunciada, os cientistas investigaram profundamente os esqueletos de vários peixes-quase-tetrápodes. "Nosso trabalho demonstra que a cabeça desses animais passou a ficar mais robusta e, ao mesmo tempo, mais móvel por causa da transição que estava sendo feita", afirma Ted Daeschler, um dos co-autores da pesquisa científica.
Para os cientistas, apesar de o Tiktaalik ter sido mesmo um peixe no final das contas, ele resolveu algumas lacunas morfológicas. Por viver em águas rasas, por exemplo, ter um pescoço móvel foi bastante importante na hora da alimentação.


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