|
Próximo Texto | Índice
Agropecuária vira vilã das emissões de gases no Brasil
Peso do setor cresceu 26,6% de 1994, ano do último inventário no país, a 2005
Tamanho do rebanho de
bois leva a grande produção
de metano, gás-estufa de
grande potência; manejo
do solo também é problema
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O peso do setor agropecuário
nas emissões de gases de efeito
estufa do Brasil é muito mais
relevante do que os dados oficiais mostram. Entre 1994
-ano do último inventário oficial de emissões brasileiras- e
2005, o peso da agricultura e da
pecuária aumentou 26,6%.
No mesmo período, a importância relativa do desmatamento, sempre considerado o
grande vilão nacional quando o
assunto é piora do efeito estufa,
cresceu apenas 11%.
"O Brasil está mudando seu
perfil de emissões. Neste contexto, a pecuária começa a se
tornar uma grande vilã", afirma
Marcelo Galdos, do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), instituição ligada à
Universidade de São Paulo.
Os dados de um estudo ainda
inédito, que será publicado na
edição de novembro da revista
científica "Scientia Agrícola",
foram apresentados na última
sexta-feira em São Paulo. O
grupo do Cena atualizou os dados setoriais apresentados em
1994. O governo federal está
atualizando esse inventário,
tendo como ano-base 2000,
mas a publicação do material ficou só para o ano que vem.
Em termos relativos, o setor
de "processos industriais" foi o
que mais cresceu. Entre 1994 e
2005, a taxa é de 73,6%. "Mas
cuidado com os números", diz
Galdos. "Mesmo com o crescimento, em termos absolutos, o
peso industrial ainda é baixo."
Ignorada
A importância do peso da
agropecuária nas emissões brasileiras é ignorada até pelo Ministério do Meio Ambiente.
Na apresentação feita ao presidente Lula na terça-feira, para tentar alinhavar uma proposta para a reunião do clima
em Copenhague (Dinamarca)
em dezembro, a importância da
agropecuária é considerada
praticamente estável no período que vai de 1994 a 2020.
Nenhuma medida foi proposta para diminuir de forma
efetiva as emissões da pecuária
e da agricultura. Os alvos foram
o desmatamento e o setor energético. Pelo estudo da USP, esse
último, no mesmo período,
cresceu apenas 4,3%.
Nas estimativas feitas pelo
grupo da USP, a fermentação
que ocorre no estômago dos
bois é uma das maiores responsáveis pela emissão dos gases
do efeito estufa do setor. O gado
emite metano, gás-estufa 21 vezes mais potente que o dióxido
de carbono (CO2) na capacidade de reter na atmosfera o calor
irradiado pelo planeta (veja
quadro acima). Mas o manejo
errado dos solos, sempre muito
revolvidos, tem impacto quase
tão grande quanto o dos bois.
"No caso da pecuária, muitas
vezes se fala na questão do confinamento [dos animais], mas
nem é muito isso", avalia Galdos. Segundo o pesquisador, o
caminho para o setor diminuir
suas emissões está muito mais
no campo técnico.
Pelos estudos da equipe da
USP, por exemplo, plantar cana-de-açúcar em áreas de pastagens degradadas é uma boa
forma de reter mais carbono no
solo. "Mas isso tem de ser muito bem feito. Não adianta nada
trocar o pasto por cana e, ao
mesmo tempo, empurrar o gado para a floresta e provocar
mais desmatamento."
Próximo Texto: Copenhague: Lula quer proposta comum para amazônicos Índice
|