São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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CIÊNCIA
Estudo cria novo filtro para tirar sal da água

MARCELO VALLETTA
da Reportagem Local

Um membrana de material cerâmico capaz de separar moléculas e átomos com cargas elétricas -e tornar potável a água salina, por exemplo- pode reduzir custos a longo prazo de procedimentos que usam esse equipamento.
O "superfiltro" é resultado da tese de doutorado de Léo Ricardo Bedore, aluno do Departamento de Físico-Química do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A tese de Bedore também está sendo defendida na Escola Nacional Superior de Química de Montpellier, na França.
"A grande vantagem desse filtro é que ele é reaproveitável", disse Celso Santilli, professor do Instituto de Química da Unesp e orientador brasileiro de Bedore.
Por ser de material cerâmico, o filtro possuiria maior durabilidade. Em comparação com os filtros comerciais, feitos à base de polímeros -compostos químicos formados por grandes aglomerações de moléculas iguais-, a "superpeneira" cerâmica representaria uma vantagem econômica.
Apesar de seu custo inicial ser maior que o dos filtros comerciais -cerca de US$ 500 por metro quadrado, US$ 350 a mais que um similar polimérico-, a longo prazo o filtro cerâmico pode ser mais vantajoso.
"Os filtros cerâmicos podem ter vida muito longa, talvez algumas décadas, enquanto os poliméricos precisam ser trocados a cada seis meses ou anualmente", disse Santilli.
Os gastos com manutenção e limpeza também poderiam ser reduzidos no caso de filtro de cerâmica, já que, para desentupi-lo, bastaria aquecê-lo a uma temperatura de 300C.

Hiperseletividade
O filtro molecular é constituído de uma fina camada de material cerâmico -à base de óxido de estanho- depositado sobre tubos de óxido de alumínio.
Os poros dessa membrana têm diâmetros de poucos nanômetros -bilionésimos de metro. Como comparação, um fio de cabelo tem a espessura de 10 mil nanômetros.
A superfície da membrana é carregada eletricamente, ou seja, além de filtrar moléculas grandes, ela também consegue repelir átomos de cargas iguais. Cerca de 90% do cloro e do sódio presentes na água salobra podem ser eliminados dessa maneira.
Se a água a ser filtrada for marinha, com concentrações salinas muito maiores, essa eficácia cai para cerca de 40%. Nesse caso, a água deve passar pelo filtro diversas vezes.
O uso do filtro para tornar potáveis a água salgada gasta cerca de 40% menos de energia, comparado com o método de destilação, que separa o sal da água por evaporação e condensação.
O testes realizados por Bedore mostraram que um filtro de 1 m2 poderia dessalinizar cerca de cem litros de água salobra por hora.
A resistência do material também é ressaltada por Santilli. "Ele pode aguentar uma pressão até dez vezes maior que um filtro convencional", disse.
Segundo ele, membranas desse tipo também poderiam ser usadas para esterilizar o ar de hospitais, por exemplo.


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