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ASTROBIOLOGIA
Substâncias encontradas em meteoritos sugerem que peças-chave da química da vida podem ter caído do céu
Nasa acha açúcar em rocha extraterrestre
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de pesquisadores da
Nasa relata hoje na revista britânica "Nature" (www.nature.com) a
descoberta de moléculas de açúcar em fragmentos de dois meteoritos. Com isso, acrescentam uma
peça fundamental ao quebra-cabeças da origem da vida.
Esses compostos orgânicos (feitos à base de carbono) são essenciais à vida tal como é conhecida.
Eles servem para múltiplas funções, que vão desde fornecer
energia para células até compor a
estrutura das moléculas de DNA e
RNA, que contêm o material genético dos organismos vivos.
A doce descoberta dá suporte à
idéia de que a vida surgiu na Terra, ao menos parcialmente, a partir de matéria-prima proveniente
de asteróides e cometas. "A idéia
data de 1961", diz Mark Sephton,
cientista da Open University (Reino Unido) que comentou o estudo para a revista "Nature".
"A vida é baseada em água e
matéria orgânica. O Sistema Solar
pode ser dividido em duas zonas:
dentro do cinturão de asteróides
[que existe entre as órbitas de
Marte e Júpiter" e fora do cinturão. A região interna pode sustentar água líquida, enquanto a externa é rica em matéria orgânica.
A idéia de que a vida na Terra surgiu de matéria-prima trazida por
cometas e asteróides simplesmente junta o melhor que essas
duas zonas possuem", disse Sephton por e-mail à Folha.
Ao longo dos últimos 30 anos,
várias evidências foram obtidas
para confirmar ao menos que esses compostos orgânicos básicos
já existiam nos primórdios da formação do Sistema Solar e da Terra. Diversas substâncias, como
ácidos carboxílicos e aminoácidos, foram detectadas no interior
de meteoritos (pedaços de asteróides ou cometas que foram
atraídos pelo campo gravitacional
da Terra e aqui caíram). Mas uma
detecção definitiva de açúcares tinha escapado aos cientistas.
"Essa não foi a primeira tentativa de determinar se açúcares estão presentes em meteoritos",
conta George Cooper, do Centro
de Pesquisa Ames, da Nasa, o primeiro autor do estudo.
Já em 1962, cientistas reportavam a detecção desses compostos
em rochas espaciais, mas na ocasião foram incapazes de confirmar a origem extraterrestre dos
açúcares. "Graças à instrumentação moderna, esse estudo é muito
mais definitivo", diz Cooper.
Carbono extraterrestre
Para verificar se as moléculas
observadas vinham mesmo do espaço, ou seja, se não haviam sido
incorporadas à rocha depois que
ela caiu na Terra, os cientistas
analisaram o tipo de átomo que
compunha as moléculas.
Cada elemento químico é determinado pelo número de prótons
que há no núcleo de cada átomo.
Carbono, por exemplo, tem seis
prótons. Normalmente, para cada
próton há um nêutron. Mas há
variações, os chamados isótopos.
Assim, é possível encontrar carbono com sete nêutrons, ou mesmo oito (o tal de carbono-14, usado para fazer datações em estudos
arqueológicos, tem oito nêutrons
e seis prótons, daí o nome).
As versões de um elemento não
se distribuem igualmente por todo o Universo. Nas rochas espaciais, como os dois meteoritos estudados, Murchison e Murray
(veja quadro acima), costuma haver muito mais carbono-13 do
que na superfície da Terra.
Os dois meteoritos são pedaços
de asteróides classificados como
condritos, cuja idade é praticamente a mesma dos planetas, cerca de 4,5 bilhões de anos.
Com a ajuda de técnicas refinadas de análise, os cientistas descobriram que o carbono encontrado
tinha muito mais "cara" de carbono espacial do que de carbono terrestre, confirmando a origem das
substâncias orgânicas. "Algumas
delas podem ser da Terra, mas a
maioria é quase certamente do espaço", afirma Cooper.
Vida fora da Terra
A constatação de que os tijolos
da vida existem no espaço sugere
que ela pode não ser exclusividade terrestre. "A existência de moléculas orgânicas extraterrestres
úteis à vida no espaço torna mais
provável que ela possa surgir em
mais de um lugar", diz Sephton.
Mesmo assim, o britânico acha
que isso não diz nada sobre a teoria da panspermia, segundo a
qual a vida teria surgido no espaço e depois caído na Terra. "Isso é
bem diferente de vida surgindo
pelo uso de matéria-prima extraterrestre que despenca sobre planetas. Atualmente, não há evidência de que haja vida no espaço."
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