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São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

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BIOTECNOLOGIA

Bezerra nelore Bela tem 4 dias e passa bem; plano é estudar a influência da clonagem no envelhecimento

USP consome 680 óvulos para obter 1 clone

Anderson Prado/Folha Imagem
Bela, nascida na terça-feira, é clone de vaca nelore de 10 anos


REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nada menos do que 680 óvulos foram necessários para conseguir o nascimento da bezerra nelore Bela, clone de uma vaca premiada de dez anos de idade. O animal, nascido na terça-feira, foi apresentado ontem pela equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, que o produziram.
Bela nasceu com 45 quilos e está bem de saúde -"graças a Deus", brinca José Antonio Visintin, coordenador do estudo que gerou a bezerra. Espera-se que, por compartilhar o material genético de Nampa, a matriz campeã da qual foi "copiada", Bela possa fornecer embriões de boa qualidade para a fazenda Panorama, que cedeu células da vaca original e mães de aluguel para que o experimento fosse conduzido.
Em entrevista coletiva, Visintin explicou que as células para clonar Bela vieram da orelha da doadora. A equipe retirou os núcleos (que guarda o material genético) de 680 óvulos e os fundiu com células completas de vacas adultas, por meio de descarga elétrica.
Segundo o pesquisador da USP, esse procedimento é mais fácil do que retirar o núcleo da célula adulta e inseri-lo no óvulo, como aconteceu com a ovelha Dolly. "Fácil" é modo de dizer, claro: as 680 fusões de óvulos e células adultas produziram só 21 embriões, transferidos para os úteros de 11 vacas. Só quatro gestações vingaram, e apenas duas delas foram até o fim. O outro clone nasceu morto, após uma gravidez cheia de complicações.
"O sucesso nos envaidece, mas os erros são mais importantes", afirma Visintin, que agora pretende acompanhar de perto as possíveis influências da clonagem sobre o processo de envelhecimento de Bela. Algumas pesquisas sugerem que os clones têm a mesma "idade celular" dos animais dos quais foram copiados.
A equipe da USP tentará verificar isso analisando os telômeros (as "pontas" dos cromossomos, que protegem as extremidades dessas estruturas enoveladas que abrigam o DNA). Os telômeros se encurtam conforme as células se dividem e envelhecem molecularmente. Telômeros encurtados significariam que Bela é mais velha do que sua idade cronológica.
O desenvolvimento da bezerra também vai ser comparado ao do touro Marcolino, clonado pela mesma equipe a partir de um feto no ano passado. Marcolino até já emprenhou uma vaca e não tem problemas aparentes, segundo informou a equipe.
De acordo com Visintin, é possível que as células da bezerra tenham DNA tanto da doadora do núcleo quanto da vaca da qual veio o óvulo, já que o gameta feminino, mesmo sem núcleo, contém um pouco de DNA nas mitocôndrias (usinas de energia celular) espalhadas pela célula.
O próximo objetivo do grupo é clonar porcos, mas Visintin diz que ele pode também tentar copiar cães. "Nesse caso, a demanda é emocional e social. Temos pessoas pedindo isso para animais doentes ou mortos", afirma o pesquisador da USP.


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