UOL


São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ASTRONÁUTICA

Primeira missão interplanetária européia tocará solo do planeta vermelho em 5 dias, atrás de sinais de vida

Sonda parte rumo à atmosfera marciana

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de vários meses de viagem, chegou a hora de a sonda de pouso Beagle-2 se despedir da companheira Mars Express. Ambas desenvolvidas pela Europa, elas seguem desde ontem rumos distintos na direção de Marte. Enquanto a primeira deve, em cinco dias, irromper na atmosfera e se instalar na superfície, a segunda vai se posicionar numa órbita em torno do planeta vermelho.
O procedimento crucial que deveria separar os dois veículos aconteceu ontem, nas redondezas marcianas. Os pequenos dispositivos explosivos realizaram a separação exatamente como havia sido planejado. Aliás, esse é um dos pontos críticos para o sucesso da missão da Beagle-2 (cujo nome homenageia a embarcação de Charles Darwin nas viagens do século 19 que contribuíram para a teoria da evolução das espécies por seleção natural).
A sonda precisa estabelecer um curso preciso, para que o ângulo de entrada na atmosfera não seja agudo demais. Isso faria com que ela queimasse antes mesmo de chegar ao chão marciano.
Como o nome sugere, a principal missão da sonda é a busca de sinais de vida na superfície de Marte. É o esforço mais direto nesse sentido desde as americanas Vikings, que em 1976 vasculharam o solo marciano à procura de organismos alienígenas.
A abordagem, desta vez, é menos direta. Nas Vikings, o principal método para testar a existência de vida foi o de oferecer um caldo nutritivo a possíveis bactérias. Caso fosse consumido, seria um indício direto de uma biologia atuante no planeta vermelho.
Embora o criador de um dos experimentos da sonda americana, Gilbert Levin, diga até hoje que houve, sim, detecção de vida marciana em 1976, o consenso da comunidade científica é o de que não deve haver nada vivo na superfície. Uma substância oxidante presente por lá imediatamente degradaria compostos orgânicos, sem os quais a vida como é conhecida na Terra é impossível.
O que ninguém sabe é do subsolo. A sonda Mars Odyssey mostrou em 2002 que, em algumas regiões, há gelo de água a apenas um metro de profundidade. Os cientistas também acham que o oxidante misterioso do solo marciano não deve existir abaixo da superfície. Por isso, a Beagle-2 tem uma pequena broca, capaz de escavar e analisar amostras de solo a um metro de profundidade.
Seus instrumentos não tentarão detectar diretamente o metabolismo de potenciais formas de vida, mas será possível observar até mesmo diminutas quantidades de compostos orgânicos -que, por sua vez, poderiam servir como indicações indiretas de vida.
A separação bem-sucedida de ontem foi um passo crucial nessa que é a primeira missão européia enviada a Marte (ou a qualquer outro planeta, para ser preciso). Mas as emoções ainda devem se acentuar em pleno 25 de dezembro, quando a sonda precisará realizar a turbulenta travessia da atmosfera marciana.
Pára-quedas e airbags ajudam na tentativa de um pouso suave -suave em termos, pois antes do repouso serão 12 batidas no chão, propiciados pelos balões infláveis. Tudo acontece em sete minutos.
Ainda não se pode dizer se vai valer a pena, mas a revista "Science", por exemplo, aposta nas sondas enviadas a Marte (dois jipes americanos também prestes a chegar ao planeta vermelho) como um dos grandes destaques para 2004. Contanto que elas consigam resistir à viagem, é claro.


Texto Anterior: Medicina: Ovelha nasce com células humanas no fígado
Próximo Texto: Balanço: Energia escura é avanço do ano, diz a "Science"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.