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ASTRONÁUTICA
Primeira missão interplanetária européia tocará solo do planeta vermelho em 5 dias, atrás de sinais de vida
Sonda parte rumo à atmosfera marciana
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de vários meses de viagem, chegou a hora de a sonda de
pouso Beagle-2 se despedir da
companheira Mars Express. Ambas desenvolvidas pela Europa,
elas seguem desde ontem rumos
distintos na direção de Marte. Enquanto a primeira deve, em cinco
dias, irromper na atmosfera e se
instalar na superfície, a segunda
vai se posicionar numa órbita em
torno do planeta vermelho.
O procedimento crucial que deveria separar os dois veículos
aconteceu ontem, nas redondezas
marcianas. Os pequenos dispositivos explosivos realizaram a separação exatamente como havia
sido planejado. Aliás, esse é um
dos pontos críticos para o sucesso
da missão da Beagle-2 (cujo nome
homenageia a embarcação de
Charles Darwin nas viagens do século 19 que contribuíram para a
teoria da evolução das espécies
por seleção natural).
A sonda precisa estabelecer um
curso preciso, para que o ângulo
de entrada na atmosfera não seja
agudo demais. Isso faria com que
ela queimasse antes mesmo de
chegar ao chão marciano.
Como o nome sugere, a principal missão da sonda é a busca de
sinais de vida na superfície de
Marte. É o esforço mais direto
nesse sentido desde as americanas Vikings, que em 1976 vasculharam o solo marciano à procura
de organismos alienígenas.
A abordagem, desta vez, é menos direta. Nas Vikings, o principal método para testar a existência de vida foi o de oferecer um
caldo nutritivo a possíveis bactérias. Caso fosse consumido, seria
um indício direto de uma biologia
atuante no planeta vermelho.
Embora o criador de um dos experimentos da sonda americana,
Gilbert Levin, diga até hoje que
houve, sim, detecção de vida marciana em 1976, o consenso da comunidade científica é o de que
não deve haver nada vivo na superfície. Uma substância oxidante
presente por lá imediatamente
degradaria compostos orgânicos,
sem os quais a vida como é conhecida na Terra é impossível.
O que ninguém sabe é do subsolo. A sonda Mars Odyssey mostrou em 2002 que, em algumas regiões, há gelo de água a apenas
um metro de profundidade. Os
cientistas também acham que o
oxidante misterioso do solo marciano não deve existir abaixo da
superfície. Por isso, a Beagle-2
tem uma pequena broca, capaz de
escavar e analisar amostras de solo a um metro de profundidade.
Seus instrumentos não tentarão
detectar diretamente o metabolismo de potenciais formas de vida,
mas será possível observar até
mesmo diminutas quantidades
de compostos orgânicos -que,
por sua vez, poderiam servir como indicações indiretas de vida.
A separação bem-sucedida de
ontem foi um passo crucial nessa
que é a primeira missão européia
enviada a Marte (ou a qualquer
outro planeta, para ser preciso).
Mas as emoções ainda devem se
acentuar em pleno 25 de dezembro, quando a sonda precisará
realizar a turbulenta travessia da
atmosfera marciana.
Pára-quedas e airbags ajudam
na tentativa de um pouso suave
-suave em termos, pois antes do
repouso serão 12 batidas no chão,
propiciados pelos balões infláveis.
Tudo acontece em sete minutos.
Ainda não se pode dizer se vai
valer a pena, mas a revista "Science", por exemplo, aposta nas sondas enviadas a Marte (dois jipes
americanos também prestes a
chegar ao planeta vermelho) como um dos grandes destaques para 2004. Contanto que elas consigam resistir à viagem, é claro.
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