São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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Dinos machos cuidavam de ninho e de ovos, diz estudo

Fóssil indica que répteis ancestrais das aves legaram o comportamento a elas

Padrão de cuidado paterno com a prole foi visto em três tipos de dinossauro; fêmeas precisariam poupar energia para gerar mais filhotes

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dinossauros machos eram pais dedicados e se encarregavam de cuidar de seus ovos, afirma um estudo que analisou fósseis de ninhos de três espécies diferentes desses répteis.
Se isso é um mérito do ponto de vista moral humano, porém, cabe dizer que esses répteis também eram promíscuos, pois a ninhada incluía ovos de mais de uma fêmea.
As três espécies estudadas -dos gêneros Troodon, Oviraptor e Citipati- são parentes distantes das aves de hoje, indicando que os cuidados paternos comuns hoje em pássaros tiveram origem já nos seus ancestrais dinossauros.
A descoberta limpa a reputação do Oviraptor, batizado com esse nome porque acreditava-se que ele raptasse os ovos de outros indivíduos. Novos achados, porém, mostraram que ele cuidava da própria prole.
"Pelo menos entre as aves, acredita-se que o cuidado paterno surgiu antes, e o materno evoluiu depois", disse à Folha Jason Moore, da Universidade Texas A&M, um dos autores do estudo, publicado na edição de ontem na revista "Science".
"O cuidado pelo pai é uma maneira de aumentar a sobrevivência dos filhotes. Em vez de produzir muitos deles, uma espécie pode produzir menos filhotes, mas investir mais energia em cada um", diz David Varricchio, colega de Moore.
Os dinos estudados pertencem ao grupo dos terópodes, do qual as aves descendem.
Duas linhas de evidência indicaram que se tratava de dinos machos. A grande quantidade de ovos -de 22 a 30- nos ninhos fósseis é típica hoje de animais com cuidado paterno. Entre as aves com esse comportamento estão os avestruzes, que se separaram evolutivamente das outras aves há muito tempo, e estão mais próximas dos dinossauros.
Moore afirma que a divisão de tarefas entre os sexos é uma estratégia para maximizar a eficiência da espécie. Por exemplo, tempo gasto cuidando de filhotes é tempo que não pode ser empregado em outras coisas, como comer ou copular.
"Nenhuma estratégia é ótima, cada uma tem vantagens e desvantagens. De modo geral [em outros animais], como as fêmeas investem mais recursos com os filhotes -necessários para o embrião crescer até o ponto em que pode viver sozinho-, elas investem mais em cuidados, pois têm mais a perder", segundo Moore. Mas nem sempre esse é o caso.

Sangue quente
"As três espécies de dinossauros que investigamos eram provavelmente endotérmicas, isto é, de "sangue quente". Isso traz duas implicações. Primeiro, os adultos precisam de muita energia para eles próprios; e, em segundo lugar, seus ovos podem ter precisado de mais recursos energéticos para crescer", afirma Moore.
Como as fêmeas botam ovos grandes -que consomem mais recursos-, elas acabariam ficando sem recursos para tomar conta de si e da prole ao mesmo tempo. "O macho libera as fêmeas para devotar recursos para produzir mais e maiores filhotes com mais probabilidade de sobreviver", diz Moore.
Em 90% das aves de hoje, tanto macho quanto fêmea tomam conta dos filhotes. Há um grupo pequeno em que apenas a fêmea toma conta, e em quase cem espécies é só o macho que cuida da prole. Entre mamíferos, em menos de 5% das espécies, o macho participa de alguma forma dos cuidados.
"Determinar qual estratégia surgiu primeiro evolutivamente entre todos os vertebrados terrestres, porém, é mais difícil" , diz Moore.


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