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Dinos machos cuidavam de ninho e de ovos, diz estudo
Fóssil indica que répteis ancestrais das aves legaram o comportamento a elas
Padrão de cuidado paterno com a prole foi visto em três tipos de dinossauro; fêmeas precisariam poupar energia para gerar mais filhotes
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dinossauros machos eram
pais dedicados e se encarregavam de cuidar de seus ovos,
afirma um estudo que analisou
fósseis de ninhos de três espécies diferentes desses répteis.
Se isso é um mérito do ponto de
vista moral humano, porém,
cabe dizer que esses répteis
também eram promíscuos,
pois a ninhada incluía ovos de
mais de uma fêmea.
As três espécies estudadas
-dos gêneros Troodon, Oviraptor e Citipati- são parentes
distantes das aves de hoje, indicando que os cuidados paternos comuns hoje em pássaros
tiveram origem já nos seus ancestrais dinossauros.
A descoberta limpa a reputação do Oviraptor, batizado com
esse nome porque acreditava-se que ele raptasse os ovos de
outros indivíduos. Novos achados, porém, mostraram que ele
cuidava da própria prole.
"Pelo menos entre as aves,
acredita-se que o cuidado paterno surgiu antes, e o materno
evoluiu depois", disse à Folha
Jason Moore, da Universidade
Texas A&M, um dos autores do
estudo, publicado na edição de
ontem na revista "Science".
"O cuidado pelo pai é uma
maneira de aumentar a sobrevivência dos filhotes. Em vez
de produzir muitos deles, uma
espécie pode produzir menos
filhotes, mas investir mais
energia em cada um", diz David
Varricchio, colega de Moore.
Os dinos estudados pertencem ao grupo dos terópodes, do
qual as aves descendem.
Duas linhas de evidência indicaram que se tratava de dinos
machos. A grande quantidade
de ovos -de 22 a 30- nos ninhos fósseis é típica hoje de
animais com cuidado paterno.
Entre as aves com esse comportamento estão os avestruzes, que se separaram evolutivamente das outras aves há
muito tempo, e estão mais próximas dos dinossauros.
Moore afirma que a divisão
de tarefas entre os sexos é uma
estratégia para maximizar a
eficiência da espécie. Por
exemplo, tempo gasto cuidando de filhotes é tempo que não
pode ser empregado em outras
coisas, como comer ou copular.
"Nenhuma estratégia é ótima, cada uma tem vantagens e
desvantagens. De modo geral
[em outros animais], como as
fêmeas investem mais recursos
com os filhotes -necessários
para o embrião crescer até o
ponto em que pode viver sozinho-, elas investem mais em
cuidados, pois têm mais a perder", segundo Moore. Mas nem
sempre esse é o caso.
Sangue quente
"As três espécies de dinossauros que investigamos eram
provavelmente endotérmicas,
isto é, de "sangue quente". Isso
traz duas implicações. Primeiro, os adultos precisam de muita energia para eles próprios; e,
em segundo lugar, seus ovos
podem ter precisado de mais
recursos energéticos para crescer", afirma Moore.
Como as fêmeas botam ovos
grandes -que consomem mais
recursos-, elas acabariam ficando sem recursos para tomar
conta de si e da prole ao mesmo
tempo. "O macho libera as fêmeas para devotar recursos para produzir mais e maiores filhotes com mais probabilidade
de sobreviver", diz Moore.
Em 90% das aves de hoje,
tanto macho quanto fêmea tomam conta dos filhotes. Há um
grupo pequeno em que apenas
a fêmea toma conta, e em quase
cem espécies é só o macho que
cuida da prole. Entre mamíferos, em menos de 5% das espécies, o macho participa de alguma forma dos cuidados.
"Determinar qual estratégia
surgiu primeiro evolutivamente entre todos os vertebrados
terrestres, porém, é mais difícil" , diz Moore.
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