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ANÁLISE
É preciso substituir o caduco sistema da ONU
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Só se surpreende com o fracasso da cúpula do clima em
Copenhague quem alimentava
expectativas irracionais sobre o
que poderia resultar dali. Tanto
as circunstâncias políticas
quanto as características estruturais da negociação recomendavam ceticismo. Presente e
passado cooperam abertamente pela derrota da atmosfera.
A perspectiva de chegar a um
novo tratado para enfrentar o
aquecimento global foi desanuviada com a eleição de Barack
Obama, em 2008. Saía de cena
George W. Bush, o maior obstáculo entre chefes de Estado para um acordo que desatasse o
nó górdio do superado Protocolo de Kyoto (1997).
Os EUA, no entanto, são hoje
um país dividido. Além do tema
da reforma da saúde, que monopolizou o debate no Congresso americano em 2009, o
tema da mudança do clima
também polariza a opinião pública do país e sua representação política. Só em 2010 haverá
decisão sobre a política doméstica para o setor.
O descasamento entre o calendário político dos EUA e o
da ONU, que marcava um desfecho para Copenhague, é o
menor dos problemas. Não seria a primeira vez que se adia a
conclusão de negociações internacionais sobre temas espinhosos. Muito mais séria é a
provisão para o fracasso embutida no próprio sistema criado
para concertar as ações de 193
países a fim de enfrentar o
aquecimento global.
O processo multilateral consagrado pela ONU exige decisões por consenso. Em outras
palavras, tudo se reduz ao mínimo denominador comum. A atmosfera da Terra, contudo, não
espera pela lenta superação de
barreiras e pela laboriosa acomodação de interesses características dessas negociações.
O longo percurso foi iniciado
de fato há mais de 17 anos, com
a adoção de um tratado genérico -a Convenção sobre Mudança do Clima- na cúpula do
Rio, a Eco-92. Dela resultou o
Protocolo de Kyoto, cinco anos
depois. Além de mal arranhar o
problema das emissões, Kyoto
cristalizou uma divisão de responsabilidades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento que não condiz mais
com o porte do desafio.
No passado, EUA, Rússia, Japão e Europa foram os maiores
responsáveis pelo aquecimento. No futuro próximo, serão
China, Índia e Brasil. Sem um
entendimento entre esses
grandes atores, nada se conseguirá em favor do clima.
Está na hora de abandonar o
bizantino sistema da ONU. É
urgente criar um foro dos poluidores que contam e podem
realmente decidir alguma coisa, em separado, sem ter de jogar para a plateia ruidosa reunida em Copenhague.
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