São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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Pesquisadores criticam bactéria "ET" da Nasa

Agência espacial diz que não se manifestará sobre críticas à metodologia

Comunidade científica levanta possibilidade de contaminação do material e pede mais testes nas amostras

Henry Bortman/Divulgação
Lago Mono, na Califórnia, onde a bactéria foi descoberta

SABINE RIGHETTI
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Boa parte da comunidade científica internacional tem reagido com ceticismo e até raiva ao anúncio da bactéria "ET" feito pela Nasa no dia 2 de dezembro.
Na ocasião, a agência espacial anunciou a descoberta de uma bactéria que substitui o fósforo -um dos seis elementos considerados essenciais à vida- pelo arsênio. A mudança chegaria até ao DNA do mirco-organismo.
Foram tantas cartas com comentários técnicos, algumas assinadas por grandes nomes da ciência, recebidas pela "Science", responsável pela publicação do trabalho, que a revista decidiu editar um novo artigo com uma espécie de revisão da pesquisa.
Até que ele fique pronto, a revista tem publicado alguns flashes com comentários na sua edição online "com o objetivo de facilitar a compreensão da pesquisa".
Encontrada no lago Mono, na Califórnia, a bactéria foi submetida em laboratório à privação de fósforo, em condições similares às extraterrestres. Nesse ambiente, o estranho micro-organismo sobreviveu e se multiplicou.
O debate gira em torno de duas principais questões: possibilidade de contaminação do meio de cultura e necessidade de mais testes.
Conforme as críticas, o ambiente do laboratório poderia estar contaminado por fósforo- o que faria com que a bactéria sobrevivesse.
Outra possibilidade é que algumas bactérias estivessem incorporando fósforo de outras que morreram no meio de cultura.
"Críticos dizem que não foram feitos experimentos simples que poderiam mostrar além de qualquer dúvida que o fósforo do DNA realmente foi substituído por arsênio", disse Leandro Tessler, físico da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

AUÊ DEMAIS
Acostumado a lidar com controvérsias científicas, Tessler diz que o fato do arsênio substituir o fósforo seria uma novidade importante. "Mas daí a sugerir que essa forma de vida tem origem extraterrestre é um longo caminho", analisa.
Outro ponto nevrálgico da discussão é à forma como a Nasa anunciou a novidade, com coletiva de imprensa e menção à vida extraterrestre.
"A Nasa vem buscando justificativas para sua existência", analisa Tessler.
De fato, a agência espacial sofreu cortes de orçamento, anunciados em fevereiro, e parece que continuaria mal das pernas na "Era Obama".
Para Tessler, o trabalho de Felisa Wolfe-Simon, autora do estudo, teria pouca repercussão se não fosse o barulho feito pela Nasa. "Mas ela é vítima ou cúmplice?", questiona. É a dúvida que fica no ar.


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