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ENTREVISTA SUSAN PINKER
Mulher é mais feliz quando reconhece diferenças de gênero
Legado feminista ainda barra aceitação de traços psicológicos inatos, diz cientista
Divulgação
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A psicóloga evolutiva Susan Pinker,
da Universidade McGill
APÓS abandonar o feminismo, a psicóloga
Susan Pinker adotou um novo olhar sobre
as diferenças biológicas que existem entre
os sexos. Para ela, o movimento foi bom
por ter dado liberdade de escolha às mulheres, mas errou ao afirmar que todas as distinções de gênero eram socialmente construídas. Em seu novo livro, "O Paradoxo Sexual", ela defende que salários de homens costumam ser maiores hoje não por discriminação no
mercado, mas porque eles priorizam mais isso.
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Professora da Universidade
McGill, de Montréal, a canadense Susan Pinker segue a
mesma linha de pesquisa que
seu irmão Steven. Ambos buscam entender a mente humana
no contexto da evolução. Em
entrevista à Folha, ela conta
por que sente pena de Lawrence Summers, reitor da Universidade Harvard que perdeu o
cargo acusado de machismo.
FOLHA - Seu livro fala sobre mulheres em empregos com bons salários,
mas que as afastavam dos filhos,
tornando-as infelizes. Por que elas
quiseram anonimato?
SUSAN PINKER - Acho que as mulheres que fazem essa escolha
ainda estão envergonhadas de
não estar agindo como homens.
Mas não podemos esperar isso
delas. Elas não são homens.
FOLHA - Como assim?
PINKER
- Existe a expectativa,
no Ocidente, de que mulheres
devem voltar a trabalhar normalmente quando seus filhos
ainda são pequenos sem que se
sintam mal por isso. Mas essa
angústia tem razões biológicas.
Se você der liberdade de escolha, mulheres vão querer trabalhar menos enquanto seus filhos forem novos. Na América
do Norte e na Europa, entre as
empresas que oferecem aos
seus funcionários trabalhos em
meio período, 89% dos que
aceitam são mulheres. Isso oferece às mulheres mais tempo
não só para os seus filhos, mas
para seus outros interesses.
FOLHA - Ganhar um salário menor
é o preço que as mulheres pagam
para satisfazer seus sentimentos?
PINKER
- Sim. Fui entrevistada
por uma jornalista na Holanda,
onde há leis que dizem que, se
você quer trabalhar só meio período, não pode ser demitido. A
maioria das mulheres na Holanda não trabalham o dia inteiro, tendo filhos ou não. Essa
jornalista trabalhava só quatro
dias por semana. Ela dedicava
as sextas para tocar piano, e
achava que não seria feliz sem
isso. Então não se trata apenas
de cuidar dos filhos, mas também de ter uma vida mais equilibrada.
Para as mulheres, a vida não é
apenas trabalho, salário e promoções, ao contrário do que
pensam muitos homens, que
acham que tudo isso vale a pena
quando compram um novo carro. Incomoda a muitos deles
pensar que outras pessoas estão ganhando mais dinheiro,
que moram em um lugar mais
legal. São mais competitivos,
gostam mais de assumir riscos.
Não todos, mas eu diria que
75% dos homens são assim.
FOLHA - Ou seja, não é regra.
PINKER
- Eu sempre deixo claro
que cada pessoa é um indivíduo
único. Ciência é estatística,
pessoas são únicas. Então,
quando você estuda ciência, está analisando probabilidades.
Sempre existirão exceções.
Compare com a altura. Em geral, homens são mais altos, mas
existem várias mulheres mais
altas do que muitos homens.
FOLHA - Mas ainda existe muita resistência à ideia de que as diferenças
entre os gêneros não são apenas socialmente construídas.
PINKER
- As mulheres foram
discriminadas por tanto tempo
que as pessoas têm uma aversão à ideia de que existe uma diferença natural, biológica.
Acham que falar sobre diferenças é voltar a pensar como antigamente, quando, na verdade,
não tem nada a ver com discriminação. É bobo ignorar as evidências científicas porque você
tem medo do que elas vão dizer.
FOLHA - Mas pode soar como "acabou a festa, todas de volta para a cozinha, os afazeres domésticos"...
PINKER
- Estou muito longe
dessa mensagem. O que acontece de bom quando as mulheres aceitam que existem diferenças biológicas naturais é
que elas se sentem muito menos isoladas com seus sentimentos. Se ignoramos as diferenças, estamos forçando mulheres a assumir cargos e trabalhos nos quais boa parte delas
não serão felizes, talvez como
executivas ou engenheiras.
Muitas mulheres me disseram: "Graças a Deus você fez
esse livro. Eu achava inaceitável aquilo que eu sentia". É difícil para elas gostar de trabalhar
com pessoas, mas saber que
empregos assim não são tão
bem pagos quanto os que envolvem lidar com "coisas", como engenharia. A maioria das
mulheres gosta de trabalhos
como assistência social, pedagogia, profissões na área de
saúde, mas salários nessas
áreas costumam ser menores.
FOLHA - Mas, se as mulheres gostam de áreas que pagam menos,
não há nada a fazer, então?
PINKER
- Precisamos remunerar melhor as mulheres pelos
trabalhos que elas preferem.
Ou seja, começarmos a pagar
aos professores tanto quanto
pagamos aos engenheiros.
Muitas mulheres esperam
que as suas conquistas sejam
reconhecidas sem que tenham
de pedir aumentos. E, por isso,
têm menos chances de ver os
seus salários subindo. Se eu
sou um chefe e recebo um homem em meu escritório dizendo "veja o que estou fazendo,
eu mereço um salário maior",
tenho mais propensão a oferecer um aumento a ele do que a
outra pessoa que faz o seu trabalho sem reclamar.
FOLHA - O que a sra. pensava sobre
as diferenças de gênero quando era
jovem? Leu Simone de Beauvoir?
PINKER
- Sim, claro, como todo
mundo naquela época. Estamos em um ponto alto do movimento feminista. Quando eu
estava na universidade, no final dos anos 1970 e começo dos
1980, a expectativa era que homens e mulheres fossem idênticos, que nós deveríamos fazer
as mesmas coisas, trabalhar a
mesma quantidade de horas,
no mesmo tipo de emprego, ter
o mesmo tipo de vínculo emocional com o trabalho doméstico e com as outras pessoas. Eu
acreditava muito nisso, li todos
os livros das principais feministas. Foi só quando eu fui trabalhar e quando meus filhos
nasceram que percebi que havia um buraco entre a minha
abordagem intelectual do assunto e os meus sentimentos.
FOLHA - Então deveríamos agora
esquecer "O Segundo Sexo" [livro
de Simone de Beauvoir, de 1949,
marco do feminismo]?
PINKER
- "O Segundo Sexo" era
interessante em sua época, mas
está ultrapassado. A ciência
avançou muito desde então.
Não tínhamos ressonância
magnética nem o mapeamento
do genoma humano, não sabíamos metade do que sabemos
hoje. Hoje estamos entendendo como os hormônios afetam
os comportamento humano.
FOLHA - Como foi a experiência da
sra. em um kibutz?
PINKER
- Eu tinha 19 anos e fiquei um ano num kibutz porque eu era socialista. Era um lugar interessante para perder
noções irrealistas. Existiam
trabalhos que a maioria das
mulheres não queriam fazer,
que exigiam muito esforço físico ou eram perigosos. Existia
uma divisão natural de trabalhos por sexo, ainda que os kibutzim tivessem sido planejados para que isso não existisse.
FOLHA - Quando Summers perdeu
o cargo em Harvard após dizer que a
falta de mulheres em ciência é questão de aptidão, o que a sra. pensou?
PINKER
- Foi assustador, porque eu tinha acabado de decidir
escrever o meu livro quando vi
o que aconteceu a esse pobre
homem. Ele foi atacado simplesmente por comentar as evidências que a maioria das pessoas que trabalham com biologia e antropologia evolutiva
vêm dizendo há anos.
LIVRO - "O Paradoxo Sexual"
de Susan Pinker
Best Seller, 402 págs., R$ 42,90
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