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DE VOLTA À TERRA
Presidente diz que missão espacial de Marcos Pontes mostra que Brasil caminha para "ser dono do próprio nariz"
Lula dá recepção de herói a astronauta
FERNANDO ITOKAZU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao receber em tom festivo e ufanista o primeiro astronauta brasileiro no Palácio do Planalto, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que teria vontade de
estar no lugar do tenente-coronel
Marcos Pontes, que viajou à ISS
(Estação Espacial Internacional)
numa nave russa. E defendeu a
viagem de US$ 10 milhões.
"Sei que eu não estou com preparo físico adequado como você.
Eu não tenho coragem de mergulhar cinco metros dentro do mar,
mas eu teria coragem de ir numa
nave espacial", discursou Lula na
cerimônia, durante a qual o astronauta foi condecorado.
Antes do evento, houve um encontro reservado do presidente
com Pontes. "Depois das coisas
que você me contou, um dia,
quem sabe quando estiverem levando as pessoas da terceira idade, eu me candidate para uma viagem dessas", disse Lula.
Marcos Pontes disse que a missão foi um sucesso completo, "em
todos os sentidos", e ressaltou a
participação das crianças -uma
citação ao criticado experimento
de germinação de feijões em microgravidade de alunos de uma
escola paulista.
"A parte científica pode ser
mensurada, mas o envolvimento
das crianças não dá para medir",
afirmou Pontes. A AEB (Agência
Espacial Brasileira) apostou que a
viagem à Estação Espacial Internacional poderia servir de inspiração para carreiras acadêmicas,
enquanto vários membros da comunidade científica a consideraram dinheiro mal-empregado.
Questionado sobre como pretende usar sua fama para aumentar a curiosidade das crianças pela
ciência e tecnologia, o astronauta
disse ainda não ter um plano específico, mas pretende ter um
contato direto com crianças.
Sem teto
O governo planejou interceptar
o avião que transportou o astronauta a Brasília por dois caças da
FAB (Força Aérea Brasileira). As
aeronaves sobrevoariam a Esplanada dos Ministérios, mas o tempo estava muito fechado.
A fachada do Ministério da Defesa foi coberta com um grande
cartaz com a foto do astronauta. O
Palácio do Planalto convidou cinco escolas para acompanhar a cerimônia. As crianças agitavam
bandeirinhas do Brasil.
O tom dos discursos foi de resposta aos críticos da política espacial. Para Lula, a crítica faz parte
da convivência democrática, mas
não são muitos os países que
mandaram homem ao espaço.
"Foi mais um sinal de que o Brasil
caminha a passos largos para ser
dono do seu nariz."
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, disse que a
missão divulgou a ciência. "O custo ficou pequeno pelo resultado."
Pontes também respondeu às
insinuações de que teria ido "de
carona" na nave russa Soyuz e que
os experimentos realizados não
eram relevantes.
"Outros astronautas viajaram
na mesma condição que a minha", disse ele, que citou o americano Jeffrey Williams, o qual viajou com ele, já que o ônibus espacial não está operando.
"A denominação que o pessoal
dá para esse tipo de vôo não é importante. Importante é que seja
um vôo em que nós vamos como
profissionais, realizar uma missão
pelo nosso país. Acho no mínimo
deselegante qualquer comentário
sobre os experimentos que eles
desenvolveram, principalmente
vindo da própria comunidade
científica", afirmou Pontes.
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