São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

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Arcebispo de São Paulo e músico "duelam" no STF

Dom Odilo diz defender a vida; para Vianna, estudo que salva criança é o que vale

Líder católico afirma que ainda não tem solução para resolver o problema dos milhares de embriões que estão sendo descartados

Alan Marques/Folha Imagem
Mão de feto humano aparece em telão no Supremo Tribunal Federal, em Brasília, onde se debateu a pesquisa com células-tronco

DA ENVIADA A BRASÍLIA

Na platéia do auditório lotado onde transcorreu a discussão sobre as células-tronco embrionárias, duas celebridades se encararam, cada uma de um lado da polêmica: o novo cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, e o músico Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso. "Temos de defender a vida, mesmo que à custa de possíveis novos tratamentos", disse dom Odilo. "É inconcebível jogar fora embriões humanos que poderiam ser usados", opôs Vianna.
O músico, paraplégico desde 2001, evitou a polêmica sobre o ponto inicial da vida humana. Em vez disso, disse que toda pesquisa vale a pena se a vida de uma única criança for beneficiada por embriões inviáveis. "Essa perspectiva coloca em um plano maior a discussão do direito à vida", disse.
Já o cardeal Odilo Scherer, também secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), pediu respeito ao embrião. "Ele não pode ser colocado à disposição da pesquisa". O líder católico disse ser contra o uso de células embrionárias "ainda que isso gere novos tratamentos."
A Folha perguntou ao cardeal por que a Igreja defende os embriões que serão usados na pesquisa com células-tronco, mas nada diz em relação às centenas de embriões excedentes (há fontes científicas que calculam em até 9.000), produzidos e descartados nas clínicas de reprodução assistida. Dom Odilo disse: "Esse é um problema. Decisões erradas não justificam outros erros. Nada justifica matar esses embriões".
O religioso propõe uma regulamentação das técnicas de reprodução assistida e sugere que embriões congelados hoje nas clínicas sejam "adotados" por famílias que queiram filhos sem poder tê-los. "Atualmente, ainda não tenho uma solução exata para isso", afirmou.
O ministro Ayres Britto encerrou a audiência pública com uma síntese do problema que cabe ao STF resolver. "Temos pontos de vista bem fundamentados. Nem sempre você decide entre o gritantemente certo e o salientemente errado", diz. "Às vezes, você tem de decidir entre o certo e o certo; em outras, entre o certo aparente e o certo aparente." (LC)


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