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Ceticismo climático não "pega" no Brasil
Três quartos dos brasileiros dizem que homem contribui "muito" para aquecimento global, mostra pesquisa Datafolha
Mais de 90% dos 2.600
entrevistados dizem crer no
fenômeno; especialista vê
menos interesse brasileiro
em indústrias poluidoras
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
O ceticismo climático, como
é conhecida a corrente de pensamento que nega a existência
do aquecimento global ou, pelo
menos, o papel do homem nesse fenômeno, não "pegou" no
Brasil, indica nova pesquisa
Datafolha. Mais de 90% dos
brasileiros aceitam que o aquecimento é real e, para 75% dos
entrevistados, as atividades humanas contribuem "muito" para as mudanças climáticas.
Os dados, obtidos após entrevistas com 2.600 pessoas em
144 municípios de todas as regiões do país, contrastam com
os ataques sofridos pela ciência
da mudança climática desde o
fim do ano passado -ataques
que, em países como os EUA e o
Reino Unido, fortaleceram o
ceticismo sobre o aquecimento
global entre a população.
Os céticos ou negacionistas
climáticos, como também são
conhecidos, nunca tiveram
tanto espaço nos meios de comunicação mundo afora quanto nos últimos meses. A ofensiva desses grupos começou com
o chamado "Climagate", como
ficou conhecido o vazamento
de e-mails dos servidores da
Universidade de East Anglia
(Reino Unido). As mensagens
documentavam anos de correspondência entre alguns dos
principais climatologistas do
mundo, e os negacionistas viram nelas indícios de que esses
pesquisadores teriam tentado
manipular dados, ocultá-los de
seus opositores ou impedir que
eles publicassem visões "alternativas" do tema em revistas
científicas respeitadas.
Gelo
Nenhuma dessas acusações
mostrou ter substância, mas a
credibilidade da ciência do clima sofreu novos golpes quando, por exemplo, veio a público
que os dados apresentados pelo
IPCC (o painel climático das
Nações Unidas) sobre o fim das
geleiras do Himalaia em 2035
não eram resultado de análises
científicas, mas tinham vindo
originalmente de uma reportagem. As escorregadas levaram à
criação de um painel independente para revisar os "padrões
de qualidade" do IPCC.
Nada disso parece ter abalado a confiança do público brasileiro. Só 5% dos ouvidos pelo
Datafolha acham que a humanidade não tem nada a ver com
o aquecimento global, enquanto cerca de metade dos americanos têm essa opinião. Quanto
maior a escolaridade, maior a
aceitação do aquecimento global causado pelo homem: 96%
entre os que têm ensino superior, contra 87% dos que só cursaram o ensino fundamental.
"Os números são impressionantes mesmo quando comparados com os dos EUA e do Reino Unido, ainda mais depois
das controvérsias recentes envolvendo o IPCC", diz Myanna
Lahsen, especialista em estudos ambientais e políticas públicas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Para Lahsen, a análise do que
os meios de comunicação publicam sobre o tema no Brasil
indica "grande uniformidade"
em favor das causas humanas
do aquecimento, o que explica,
em parte, a posição da sociedade. "Eu até diria que é saudável
ter debates, mas nos EUA
[grande centro do ceticismo climático] isso é muito problemático, na medida em que a discussão é criada por elites e interesses financeiros, os quais
usam métodos muito manipuladores", afirma ela.
Outro fator importante no
país, diz Lahsen, é a importância econômica relativamente
pequena das indústrias baseadas em combustíveis fósseis no
Brasil. São elas as que mais têm
a perder com os cortes de gases
do aquecimento global, como
ocorre no caso americano.
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