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Tamanho do cérebro prevê inteligência de primatas
Estudo contesta noção de que volume do órgão em relação ao corpo é que importa
Segundo cientista, espécie
maior precisa adquirir mais
inteligência por necessidade
de se adaptar a mudanças
ambientais ao longo da vida
DA REDAÇÃO
A diferença de inteligência
entre espécies distintas de macacos pode ser explicada pela
simples diferença de tamanho
absoluto entre os cérebros desses mamíferos, e não é necessário levar em conta o tamanho
do corpo dos animais. A conclusão, que contraria trabalhos
prévios sobre a evolução da inteligência entre primatas, sai
de um estudo liderado por Carel Van Schaik, da Universidade de Zurique (Suíça).
Em artigo publicado na sexta-feira, Van Schaik -primatólogo conhecido por mostrar
que orangotangos possuem
cultura- faz uma revisão de 84
trabalhos publicados sobre desempenho cognitivo de diversas espécies de primatas.
Ao terminar o levantamento,
o cientista e sua equipe concluíram que os macacos maiores têm uma tendência natural
a serem mais inteligentes que
os menores. Essa relação contraria a teoria mais aceita agora, segundo a qual, corpos
maiores consomem mais atividade do sistema nervoso para
controlar movimentos e sentidos, deixando menos espaço livre para atividades cognitivas.
Segundo o novo estudo, mesmo tendo de gastar mais do seu
cérebro com simples "tráfego
neural", macacos grandes também têm mais inteligência.
Ainda não está claro por que
isso ocorre entre diferentes
primatas, já que elefantes e baleias possuem cérebros maiores que os dos humanos, apesar
de não terem mais habilidades
cognitivas. Mas os autores já
lançam idéias no estudo, publicado na revista "Brain, Behaviour and Evolution"
(www.karger.com/journals/bbe).
"Animais maiores podem ser
melhores em controlar aspectos de seus ambientes e por isso têm mais a lucrar com o fato
de serem mais inteligentes",
diz Van Schaik em comunicado
à imprensa. "Mas talvez o mais
importante seja que animais
maiores tendem a viver mais e,
portanto, podem se beneficiar
por mais tempo de serem flexíveis e adaptáveis. Talvez até
precisem disso, porque há mais
probabilidade de o ambiente
mudar durante suas vidas."
A lógica do "tráfego neural",
porém, ainda deve ser parcialmente necessária para explicar
o fenômeno. "Se não fosse necessária estaríamos cercados
por alguns enigmas, como o fato de que não há diferenças
consistentes de QI entre os sexos, apesar de homens terem
cérebros maiores", diz Robert
Deaner, da Universidade Estadual Grand Valley, de Michigan
(EUA), co-autor do estudo.
"Acreditamos que a maior
parte da relação entre os tamanhos do cérebro e do corpo se
deve a animais maiores serem
mais espertos", afirma. "Mas
certamente é possível -até
provável- que alguma parte
dessa relação se deva à necessidade de animais maiores manterem tráfego neural maior."
Cérebro "burocrata"
No trabalho, os cientistas
também atacam outro método
comumente usado para tentar
predizer inteligência entre primatas: o tamanho do neocórtex, estrutura localizada na superfície do cérebro associada a
raciocínio lógico e habilidades
cognitivas mais sofisticadas.
"Não há indicação de que as
medidas baseadas no neocórtex sejam melhores do que
aquelas baseadas no cérebro
inteiro", escrevem os pesquisadores. Segundo os cientistas,
seu estudo contraria a noção de
que o funcionamento do cérebro possa ser repartido entre
estruturas "burocráticas", que
controlam atividades ordinárias do corpo, e "inteligentes",
que controlam a cognição.
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