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Descoberta do efeito estufa faz 150 anos
Um século e meio após experimentos de John Tyndall, velocidade com a qual termômetro responde a CO2 ainda é controversa
Estudo pioneiro, publicado
em 10 de junho de 1859,
quatro meses antes de
"A Origem das Espécies",
não teve impacto imediato
Getty Images
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John Tyndall, pesquisador irlandês que explicou o efeito estufa |
GUSTAVO FALEIROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM NORWICH (REINO UNIDO)
A teoria do efeito estufa acaba de completar 150 anos, mas
seu potencial de gerar controvérsias continua vigoroso.
A prova de que alguns gases,
como o gás carbônico e o metano, agem como reguladores da
temperatura da Terra foi apresentada em 1859 pelo químico
irlandês John Tyndall. Desde
então, diversas pesquisas buscam determinar como a temperatura do planeta responde ao
aumento da concentração desses gases -os gases-estufa.
Existe consenso de que a elevação dos níveis de gás carbônico causou um aquecimento
anormal no último século. No
entanto, há ainda incertezas
sobre o ritmo com o qual os termômetros reagem a essas alterações na concentração .
O aumento total da temperatura da Terra caso a concentração de gases-estufa na atmosfera duplique é conhecida como
sensibilidade climática. O Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas, o IPCC,
afirma que dobrar o CO2 em relação à era pré-industrial pode
causar elevações de 1,5C a 6C
na temperatura global. Uma
considerável margem de erro.
É esta faixa de incerteza que
mantém acessas as disputas sobre metas para redução de
emissões. Enquanto alguns especialistas afirmam que a temperatura perderia o controle se
a concentração de gás carbônico ultrapassasse 450 partes por
milhão (ppm), diplomatas
usam o limite de até 550 ppm
nas negociações do novo acordo climático na ONU.
O climatologista Peter Stone,
do Instituto de Tecnologia de
Massachussets, autor de estudos sobre sensibilidade climática nas últimas décadas, afirma que as dúvidas sobre o funcionamento do efeito estufa
ainda persistem porque não há
conhecimento suficiente sobre
o papel das nuvens e dos oceanos no clima. Ambos ajudam a
alterar o balanço do calor retido na Terra: as nuvens podem
tanto refletir radiação quanto
ajudar a retê-la.
Já os oceanos absorvem o calor, retardando o aumento dele
na atmosfera. "A sensibilidade
climática é normalmente definida como uma mudança no
equilíbrio. Quanto a temperatura da superfície terrestre
precisa aumentar se dobrarmos a concentração de CO2 para que o sistema climático atinja equilíbrio? O problema é que
não temos observações globais
para saber o quão longe estamos do equilíbrio", diz Stone.
Pioneiro
Mike Hulme, professor da
Escola de Ciências Ambientais
da Universidade de East Anglia
(Reino Unido), explica que foi
John Tyndall quem iniciou, em
junho de 1859, a linhagem de
cientistas que passou a estudar
a sensibilidade climática.
O químico sueco Svante Arrhenius, o primeiro a calcular,
em 1896, o potencial de aquecimento atmosférico com o aumento de CO2, citou Tyndall
em seu artigo "por ter apontado a importância da questão".
"Na época o experimento de
Tyndall não teve um grande
impacto, não revolucionou, como alguns meses depois faria a
teoria de Darwin. Foram necessários mais 40 anos até que
Arrhenius tentasse quantificar
a relação entre gás carbônico e
temperatura", diz Hulme. O
experimento do cientista irlandês ocorreu seis meses antes da
publicação de "A Origem das
Espécies", por Charles Darwin.
Durante sete semanas, entre
abril e maio de 1859, Tyndall
testou de que forma alguns gases permitiam que a radiação
do Sol penetrasse a atmosfera
mas conseguiam barrar depois
o calor emitido pela superfície
terrestre em forma de raios infravermelhos. Ele buscava provar especulações feitas por físicos nas décadas de 1820 e 1830
como o francês Jean-Baptiste
Fourier, de que algo na Terra
ajudava a reter o calor.
O experimento de Tyndall
consistia em testar diferentes
concentrações de vapor da
água e o chamado "gás-carvão",
uma mistura de CO2, metano
(CH4) e hidrogênio, e quanta
energia era absorvida. Para
tanto, ele usou fontes de calor
que emitiam a radiação infravermelha dentro de um tubo
onde dosava diferentes concentrações dos gases, medindo
a energia que passava com uma
pilha termoelétrica (que funcionava à base de calor).
Correspondências da época
mostram que Tyndall estava
particularmente intrigado pela
teoria de Louis Agassiz, lançada em 1837, sobre os sucessivos
períodos de glaciação na Terra.
Cético de si mesmo
Nos artigos que escreveu entre 1859 e 1866, após provar as
propriedades dos gases de efeito estufa, Tyndall descartou
que mudanças nas concentração de gases estufa, isoladamente, seriam capaz de determinar as eras glaciais. Hulme
diz que Tyndall chegou a inferir
a relação direta entre o possível
aumento na concentração de
certos gases e o aquecimento
do planeta, sem destacar, no
entanto, que isso ocorreria por
resultado da ação humana.
Após os cálculos de Arrhenius, outros pesquisadores seguiram buscando relacionar
temperatura e concentração
dos gases. O britânico Guy Callendar foi o primeiro, em 1938,
a argumentar que a queima de
combustíveis fósseis elevaria o
gás carbônico a um nível capaz
de alterar a temperatura global.
A ideia foi refutada na época.
Demorou ainda quase 70 anos
para que cientistas reunidos no
IPCC colocassem, em seu quarto relatório, que com 90% de
certeza o homem estava interferindo na temperatura global.
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