|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Proteger floresta no
Brasil faz bem para a
agricultura dos EUA
Estudo diz que americano pode ganhar até US$ 270 bi em 2030 com queda no desmate
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Está circulando entre parlamentares ruralistas um estudo que pode dar argumentos em favor de mudanças no
Código Florestal.
Intitulado "Farms Here,
Forests There" ("Fazendas
Aqui, Florestas Lá", em inglês), o documento americano afirma que os agricultores
dos EUA podem ganhar até
US$ 270 bilhões em 2030 com
a redução do desmatamento
nos países tropicais.
O argumento é que a maior
proteção às florestas prejudicará a produção de carne, soja, dendê e madeira em países como o Brasil.
Isso levaria a um aumento
dos preços e à abertura de
um buraco na oferta, que seria preenchido pelos EUA.
"Eliminar o desmatamento até 2030 limitará a receita
para a expansão agrícola e
para a atividade madeireira
nos países tropicais, nivelando o campo de jogo para os
produtores americanos no
mercado global de commodities", afirma o estudo.
LOBBY
O objetivo do documento,
lançado no fim de maio pela
ONG Avoided Deforestation
Partners, é convencer senadores dos EUA ligados ao
agronegócio, a aprovarem a
lei de mudança climática em
tramitação no Senado.
A lei prevê que os EUA possam negociar créditos de carbono ilimitados pelo desmatamento tropical evitado.
Ou seja, o país pagaria para manter a floresta em pé no
Brasil, por exemplo, e poderia abater o carbono que seria
emitido pelo desmate das
próprias metas de corte de
poluição. O Brasil tem se
oposto nas negociações internacionais a permitir que a
redução no desmate possa
gerar créditos ilimitados.
O estudo corrobora a visão
de que a conservação ambiental é uma desculpa dos
países desenvolvidos para
impor barreiras à agricultura
do Brasil, mais competitiva.
Tal visão permeia o relatório do deputado Aldo Rebelo
(PCdoB-SP) que propõe reformar o Código Florestal reduzindo as áreas de mata
protegidas em imóveis rurais. A proposta tramita numa comissão especial da Câmara dos Deputados.
Segundo Paulo Adário, do
Greenpeace, fiar-se na nova
pesquisa como subsídio para
mudar a lei brasileira seria
ruim para a bancada ruralista. "O estudo tem problemas
sérios", afirma.
O principal, diz Adário, é
não levar em conta que reduzir o desmate não diminui a
fronteira agrícola brasileira.
"Só na Amazônia você tem
20 milhões de hectares de terras degradadas e abandonadas. Quando você para de
desmatar, as terras já abertas
ganham valor", afirma.
Citando um estudo de
Gerd Sparovek, da USP, Adário afirma que é possível dobrar a produção no Brasil só
usando áreas abertas e com
alta aptidão agrícola.
Ele lembra que desde 2006
vigora uma moratória ao
plantio de soja em áreas desmatadas na Amazônia, e
nem a produção nem a produtividade caíram. "Neste
ano ambas cresceram."
"O estudo faz projeções
burras associando linearmente hectares de desmatamento a mais ou menos produto", pondera Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra Amazônia Brasileira.
"Assim, desconsidera que
a determinante para a produção não é área e sim produtividade, especialmente nos
países onde a produtividade
média é baixa, o que é o caso
das pastagens no Brasil."
Procurados, os autores do
estudo não responderam aos
pedidos de entrevista.
Texto Anterior: Reunião baleeira começa sem seu chefe Próximo Texto: Frase Índice
|