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TECNOLOGIA
Cientistas brasileiros utilizam simulações de computador para reproduzir experimentos em escala atômica
"Alquimista virtual" cria novos materiais
SALVADOR NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Um grupo de cientistas anda lidando com a física de materiais de
modo curioso. Em vez de a experimentação confirmar ou refutar
a teoria, é a base teórica que confirma os experimentos. A aparente inversão do processo científico
é obra de Adalberto Fazzio, físico
da Universidade de São Paulo. E
ele garante que os "alquimistas
virtuais" estão a caminho.
Suas pesquisas consistem na
construção de simulações de
computador que reflitam o comportamento de materiais em escala atômica. Os resultados reproduzem dados obtidos experimentalmente, e ainda por cima os explicam de forma mais completa.
A equipe já andou utilizando
seus modelos de computador para "comprovar" diversos experimentos práticos, como um feito
nos EUA e publicado na revista
"Science" em 1997 que mostrou a
combinação de átomos de germânio em uma superfície de silício.
A simulação conseguiu chegar
aos mesmos resultados, com a
vantagem de oferecer explicações
mais precisas sobre os processos
que levaram à combinação das
duas substâncias, mostrando a interação entre átomos individuais.
Com a técnica, os brasileiros
conseguiram, inclusive, simular a
imagem de microscópio de força
atômica que seria obtida se o experimento fosse real, e ela batia
com as fotos reais feitas anos antes pelo grupo americano.
"Além de explicar melhor processos que antes não entendíamos, outra grande vantagem é a
rapidez", disse Fazzio à Folha.
"Processos que são muito lentos
na natureza podem ser acelerados
no computador", afirmou.
Alquimia virtual
O grupo brasileiro já publicou
este ano diversos trabalhos sobre
a técnica na revista especializada
"Physical Review Letters" (http://prl.aps.org). Alguns até envolvem algo que se aproxima da função que Fazzio atribui, com certa
dose de licença poética, aos "alquimistas virtuais". A expressão
deu título à conferência que ele
deu quarta-feira, último dia da 53ª
Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência), em Salvador.
A função desses "alquimistas
virtuais" seria levar os modelos
informatizados adiante, não apenas confirmando resultados experimentais, mas também "engenheirando" novos materiais, ao
alterar variáveis da simulação (como temperatura, pressão e quantidade de átomos e moléculas envolvidas na mistura).
O repertório do grupo brasileiro
é bastante amplo. Ele vai desde
aplicações com silício, visando ao
aumento de eficiência do material
para a criação de placas de computador mais poderosas e menores, até os nanotubos de carbono
-a coqueluche da área de nanotecnologia, que deve impulsionar
ainda mais os computadores rumo à miniaturização no século 21.
Um dos feitos mais recentes foi
a criação, em computador, de um
nanofio de ouro -um arranjo de
seis ou sete átomos de ouro, alinhados e interconectados.
Depois de subverter a ordem
entre teoria e prática, a equipe
também tem pretensões de fazer
o caminho de volta, partindo das
simulações para as experiências.
O grupo mantém contato com diversos pesquisadores experimentais, para transpor a "alquimia
virtual" para a realidade.
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