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Planta natural do cerrado trata picada de surucucu
Extrato de barbatimão atenuou veneno da cobra em teste com cobaias
Vegetal reduz efeito do envenenamento que é difícil de tratar com soro antiofídico e pode requerer amputações
DENISE MENCHEN
DO RIO
Uma planta brasileira pode se tornar um importante
aliado contra o veneno da surucucu, a maior serpente peçonhenta da América do Sul.
Uma pesquisa da UFF (Universidade Federal Fluminense) mostrou que um extrato
feito da raiz do barbatimão,
uma árvore do cerrado, consegue neutralizar os principais efeitos da picada.
O preparado teve sucesso
em testes com cobaias e pode
se tornar um tratamento
complementar para vítimas
da surucucu, uma das serpentes mais letais do Brasil.
Seu veneno ataca os sistemas
cardiovascular, respiratório,
urinário e nervoso, além de
provocar dor, inflamação,
edema, hemorragia e até necrose no local da picada.
Entre 2001 e 2004, a cobra
respondeu por 2.170 ataques
no país, ou 2,3% do total. Seu
índice de letalidade, porém,
foi quase três vezes superior
ao do gênero Bothrops, que
respondeu por 90% dos acidentes -cerca de 1% das vítimas da surucucu morreram.
Hoje, o tratamento padrão
para quem sofre o ataque -o
soro antiofídico- é eficaz
apenas contra os efeitos sistêmicos. É difícil combater os
efeitos locais da picada, que
podem levar a amputações.
Em busca de uma complementação para esse tratamento, Rafael Cisne de Paula, da UFF, investigou a ação
de 12 extratos de plantas sobre os efeitos locais do veneno. Onze deles apresentaram
algum grau de eficácia, mas
o barbatimão foi excepcional: inibiu em mais de 80%
todos os efeitos analisados.
O extrato da planta impedindo hemorragias, distúrbios de coagulação e a destruição de hemácias e proteínas. Os testes foram feitos in
vitro e em camundongos.
"Ainda é preciso identificar os componentes que respondem pela neutralização
do veneno, isolá-los e testar
novamente sua eficácia antes de dar início à pesquisa
clínica [com seres humanos]", explica de Paula. "Há
vários degraus a serem galgados. Mas os resultados são
promissores", diz seu orientador André Fuly.
De Paula também defende
que a planta seja testada contra efeitos gerais do veneno.
Isso poderia levar não só à
complementação da soroterapia, mas até à sua substituição. Como o soro antiofídico precisa de armazenamento em geladeira, é difícil tê-lo
à mão em áreas de mata. Já o
extrato de barbatimão suporta calor sem se degradar.
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