São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2011

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Química perfumada

História das fragrâncias passa pela descoberta da destilação, da extração de óleos e pela criação das moléculas sintéticas

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

O uso de aromas, presentes em desodorantes, cremes, xampus e perfumes, faz parte da história da humanidade. Mas a produção de cheiros de hoje só foi possível com a evolução da química.
As primeiras formas de aromatização eram feitas pela simples fumigação de ervas. Essa técnica fazia parte das cerimônias religiosas.
"Acreditava-se que Deus estivesse no ambiente, mesmo sem ser visto, assim como os cheiros", explica João Braga, professor de história da moda da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado).
Os aromas feitos a partir de ervas como a mirra -um dos presentes que teriam sido dados a Jesus- faziam parte de rituais desde o Egito Antigo.
Lá, surgiram também as primeiras formas de perfumar-se por meio de pastas.
"Havia diferentes aromas para cada parte do corpo. Mas os líquidos dessas pastas eram muito voláteis", conta a química Claudia Rezende, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ela coordena o Ano Internacional da Química no Brasil.

'ALQUIMIA'
Com o processo de destilação (separação da água e do álcool), aperfeiçoado no século 14, o perfume ficou independente dos banhos. Nessa época, as ervas para culinária, religião e perfumes se confundiam.
No século 16, os últimos alquimistas europeus -os químicos da época- aperfeiçoaram a condensação do vapor de ervas em ebulição para extração dos óleos essenciais -a base dos perfumes.
"Isso deu um salto na história dos perfumes", explica Humberto Bizzo, que pesquisa óleos essenciais na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Desde então, a vida de personagens históricos foi marcada também pelos cheiros.
Um deles é Napoleão Bonaparte, líder da revolução francesa no século 18. Ele usava uma fragrância como a atual "Água de Colônia".
Apesar de adepto de cheiros, um perfume teria tirado Napoleão do sério: o de sua ex-mulher, Josefina. Ela teria impregnado o quarto dele com seu forte aroma antes de deixar sua casa.
A popularização dos perfumes aconteceu no século 19, com o avanço da química e o crescimento da indústria.
Mas os perfumes não deixaram de ser itens "de luxo" e passaram a ter uma uma relação cada vez mais próxima com a moda.
"O sensorial é uma das formas de convencimento de consumo", lembra Braga.
Mas o odor é importante também para a sobrevivência. Serve, por exemplo, para identificar comida estragada. "É um alerta para o sistema de defesa", diz Rezende.
Hoje, a química se ocupa buscando moléculas, reproduzindo-as sinteticamente e criando fixadores.
Os perfumistas trabalham com um universo limitado, mas grande, de substâncias: são cerca de 3.000 matérias-primas. A arte é fazer uma combinação delas.
"Além disso, há prospecção de novas substâncias na natureza e no laboratório", lembra Bizzo, da Embrapa. Ele, por exemplo, está em busca de novos aromas no cerrado brasileiro.


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