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Primeiros brasileiros eram sedentários, sugerem pesquisas
Escavações revelam população densa e utilização intensiva de recursos vegetais em cavernas de MG
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores da USP estão
traçando um quadro surpreendente da organização social dos
primeiros seres humanos a povoar o Brasil. Dados de escavações em Minas Gerais sugerem
que esses paleoíndios, como
são conhecidos, eram membros
de uma população densa e sedentária, que utilizava de forma intensiva os recursos vegetais do Brasil Central a partir de
uns 10 mil anos atrás.
Os dados estão em artigo na
revista científica "Journal of
Archaeological Science" e também no livro "Lapa das Boleiras", a ser publicado em breve
pela editora Annablume.
O quadro "acaba com essa
imagem de poucos indivíduos
extremamente nômades perambulando pelo cerrado", disse à Folha o arqueólogo Astolfo
Araújo, que organizou a obra
junto com o bioantropólogo
Walter Neves. Segundo ele, a
ocupação densa é um padrão
recorrente, que aparece no sítio de Lapa das Boleiras e em
outros abrigos rochosos da região de Lagoa Santa (MG).
Uma das chaves para essa estimativa é o acúmulo surpreendentemente espesso de cinzas
nos sítios arqueológicos,
abrangendo um período de
mais ou menos três milênios.
Além disso, há abundância de
enterros nesses locais, bem como o uso de matérias-primas
obtidas apenas localmente.
"Essas coisas são indícios de
territorialidade", diz Araújo.
Os dados também indicam
que, em vez de caçar grandes
mamíferos, como seus colegas
da América do Norte, os paleoíndios mineiros preferiam
caça média e pequena e, principalmente, recursos vegetais.
"O trabalho do Walter [Neves] mostra um índice de cáries
de quem consumia muito carboidrato, parecido com o de
agricultores", afirma o arqueólogo. Esse povo pode ter aproveitado uma fase climática
úmida para prosperar.
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