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Americano cria algodão transgênico comestível
Semente da planta é rica em proteína, mas tóxica
DA REPORTAGEM LOCAL
Além de ser a fibra vegetal favorita da humanidade, o algodão poderá ter mais uma utilidade: alimentar meio bilhão de
pessoas com as suas sementes,
graças a uma variedade transgênica da planta obtida por pesquisadores americanos.
Há muito os cientistas procuram uma maneira de aproveitar o grande conteúdo de
proteína nos caroços de algodão. Eles não são comestíveis
por produzirem grande quantidade de uma toxina, o gossipol,
presente em toda a planta.
Quando foi divulgada em
1954 uma variedade de algodão
sem gossipol, parecia que a possibilidade de aproveitar a proteína das sementes estava próxima. Mas o gossipol não está
presente no algodão à toa. Ele é
fundamental para a defesa do
algodoeiro contra insetos.
A novidade agora é um algodão transgênico que mantém o
gossipol na planta -especialmente nas folhas-, mas longe
das sementes. Isso foi possível
porque os pesquisadores usaram uma técnica específica de
engenharia genética, a interferência de RNA (RNAi).
Essa técnica, cuja descoberta
deu o Prêmio Nobel deste ano
aos americanos Andrew Fire e
Craig Mello, permite usar pequenas moléculas de RNA (o
primo-irmão do DNA) para silenciar genes específicos.
O algodão transgênico foi
criado por Keerti Rathore, do
Instituto para Genômica de
Plantas e Biotecnologia, da
Universidade A&M do Texas,
nos EUA. Rathore e mais quatro colegas descrevem a descoberta na última edição dos
anais da academia de ciências
dos EUA, a revista "PNAS".
Eles argumentam que para
cada quilo de fibra se produz
1,65 kg de caroços, que contêm
21% de óleo e 23% de proteína.
Se os 44 milhões de toneladas de sementes produzidas
anualmente pudessem ter sua
proteína utilizada, seria suficiente para alimentar meio bilhão de pessoas com 50 gramas
de proteína per capita por dia.
Para Rathore, a remoção de
compostos tóxicos naturais da
porção comestível de plantas
não só as tornam mais seguras
para consumo como pode também proporcionar um meio de
satisfazer as necessidades de
nutrição de uma população em
crescimento, sem que seja necessário aumentar a produtividade ou a área plantada.
(RICARDO BONALUME NETO)
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